TUDO SOBRE A COMUNIDADE DAS ARTES

Ajuda-nos a continuar a ajudar a comunidade na busca de oportunidades, e a continuar a levar-te conteúdos de qualidade.

Ajuda-nos a continuar a ajudar a comunidade na busca de oportunidades, e a continuar a levar-te conteúdos de qualidade.

Selecione a area onde pretende pesquisar

Conteúdos

Classificados

Recursos

Workshops

Crítica

Entrevistas

Call Center com Bárbara Godinho, Bárbara Rosa, Duarte Mocho, Inês Barros e Manuel Pedro Silva

Por

 

COFFEEPASTE
2 de Maio de 2024

Partilhar

Call Center com Bárbara Godinho, Bárbara Rosa, Duarte Mocho, Inês Barros e Manuel Pedro Silva

Assim se apresenta o espetáculo "Call Center": "Esta é a história da Marta, mas podia ser a da Clara, da Bárbara, da Íris, do Michel, vai dar ao mesmo. Esta é a história de todos aqueles que sonham. Que têm a ambição de arriscar, de ir atrás. Mas que dão por si presos a um sítio. A um trabalho. A uma vida que já não é a deles. A que preço? Ao preço dos sonhos". Conversámos com os atores Bárbara Godinho, Bárbara Rosa, Duarte Mocho, Inês Barros e Manuel Pedro Silva para saber mais sobre o projeto, que estará em cena nos dias 3 e 4 de maio, no Espaço Boutique da Cultura, em Lisboa.


Como é que os caminhos de vocês cinco se cruzam?

Para além de amigos, temos em comum parte da nossa formação artística e juntamo-nos movidos pela vontade de pôr em cena o nosso primeiro espetáculo. Depois de terminar o curso, deparámo-nos com a escassez de trabalho e percebemos que tínhamos duas opções: resignarmo-nos com a dificuldade ou fazermos acontecer o nosso próprio trabalho. Aceitámos o desafio de nos tornarmos criadores, na procura de compreender de forma aprofundada todo o processo de encenação e produção teatral, que acreditamos contribuir para a nossa evolução enquanto artistas. Acabou por ser uma oportunidade de nos tornarmos polivalentes e ganharmos ferramentas que, certamente, nos serão úteis no mercado de trabalho.


Quais as origens do espetáculo "Call Center"?

Quando decidimos que queríamos avançar com este projeto, percebemos que uma encenação coletiva já seria trabalhosa o suficiente para nos aventurarmos num texto que fosse da nossa autoria, também. Assim, depois de muita pesquisa por livros de teatro, descobrimos o “Call Center”, um texto do ator e encenador Ricardo Correia, escrito no âmbito do Laboratório de Escrita para Teatro, do Teatro Dona Maria II. Assim que o lemos em conjunto pela primeira vez, percebemos que este texto era um reflexo da situação pela qual passávamos, que era muito atual para nós e que nos fazia todo o sentido contar esta história. Acima de tudo porque sentimos que era a nossa história.

 

A precariedade laboral foi uma realidade com que se depararam no fim da vossa formação, ou já temiam que assim fosse?

A precariedade laboral é um tema que, desde sempre, esteve muito associado ao meio artístico. Por isso, sim, sempre foi algo que soubemos que estaria inerente à nossa profissão. Mas uma coisa é saber que existe, outra é senti-lo na pele. Quando ganhámos consciência do “E agora?”, que o fim da formação trouxe consigo, a inquietação foi notória. Estudámos o que queríamos, é verdade, mas sempre com outros trabalhos paralelos, desde restauração, babysitting, promotoria ou mesmo outros cursos como Jornalismo e Medicina.


Quem é a Marta?

Costumamos dizer que a Marta somos todos nós. A Marta são todos os que sonham. Todos aqueles que se veem obrigados a fazer parte do sistema para perseguir um sonho, um sonho que muitas vezes fica esquecido na sombra de um emprego rotineiro, mas confortável. Quantos de nós podemos dizer que conseguimos realizar o nosso sonho ou que temos alguém como referência que o tenha feito? Ao levarmos a Marta para cena queremos que ela seja essa referência para o nosso público. Que mesmo num caminho imperfeito e atribulado se apercebe de que nunca deixou de sonhar. Uma vez um professor nosso disse-nos: “se não conseguem viver sem ser atores, então esse é o sinal para continuar”. A Marta acaba por ser a personificação dessa necessidade, dessa urgência. Da constatação de que, dê por onde der, não deixamos de sonhar.

 

Como traduziram para cena as temáticas que se propuseram abordar?

O primeiro desafio foi manter a natureza do texto. Depois, quisemos muito que a nossa encenação fosse um casamento entre o universo fabril, a precariedade e a hierarquia das grandes empresas. Através da cenografia, figurinos, desenho de luz e sonoplastia, complementamos o caos instalado pelo próprio texto, que nos remete para a desordem - uma alusão ao conflito interno vivido pela própria Marta -, com as condições precárias oferecidas pela maior parte dos trabalhos. Provocação, despersonalização e desconforto foram as palavras que nos ressoaram quando começámos a construir todo o ambiente. Soubemos, desde o início, que queríamos exaltar temas e questões atuais, incitando a uma reflexão ativa sobre os mesmos. Inquietação, desafio, resistência, revolução, sistema, oposição, foram algumas das bases desta mise-en-scène que pretende tratar o público por tu. Não quisemos um espetáculo confortável. Quisemos desafiar-nos ao ponto de o espectador sair com questões, ver-se refletido no que acontece em cima do palco… quem sabe, até, desconfortável. Ir do riso ao desconforto, tal como na vida.


A linha entre a realidade e a ficção vai ser fácil de identificar, ou nem tanto?

Depende de quem for o observador (Risos). A exposição de factos e a denúncia são o dedo apontado às falhas no mundo de trabalho que persistem até aos dias de hoje. O espetáculo passa-se num Call Center, mas qualquer pessoa que assista acaba por reconhecer a semelhança em qualquer outro posto de trabalho. A precariedade acaba por ser tema não só entre profissionais da área do espetáculo, mas também entre outros profissionais, onde o nome de uma grande empresa ofusca as fracas condições de trabalho. A naturalidade e organicidade da interpretação e do jogo cénico aproximam o público do que é o seu dia-a-dia. A ideia não é que essa linha seja fácil de distinguir. O objetivo é mesmo o de fazer passar essa realidade, deixando ao critério de quem vê se aquilo é real ou não. Se já o viveu, se já assistiu, se se revê naquelas palavras e ações.


Como foi o processo criativo?

Engraçado que, durante o processo criativo, como cada um tem também outro trabalho além de sermos atores, partilhámos muitas histórias idênticas àquelas que o texto retrata e esse foi, também, o ponto de partida para nos identificarmos com ele. A partir daí o processo criativo foi duro e muito desafiante. Além de ser a nossa primeira criação teatral - e para alguns o primeiro espetáculo a título profissional -, demos por nós a ter de lidar com questões de produção, encenação, cenografia, figurinos, sonoplastia, desenho de luz... sendo este um espetáculo sem financiamento, não quisemos olhar para isso como uma limitação. Por isso, arregaçámos as mangas e fomos aprendendo com os erros.

 

Que marca querem deixar no público com o vosso “grito de revolta”?

Gostávamos que o público saísse da sala de espetáculo a questionar-se, a refletir… sobre o que acontece aos sonhos. Quando é que deixaram de sonhar? Só o facto de ganharem consciência pode ser o ponto de partida para uma viagem bonita. A perceção de que nunca é tarde para o fazer, passe o tempo que passar. Paralelamente, a precariedade laboral é também o foco. Ao assistir a determinadas situações, ao seu ridículo, esperamos que a consciência também seja o da mudança. Perceber que alguém tem de romper a cadeia, por muito difícil que seja.


O que podemos fazer para que os jovens realmente consigam trabalho nas áreas em que se formam?

O primeiro passo talvez seja, e pegando um pouco na resposta anterior, o de romper a cadeia. Dar oportunidade aos jovens de mostrarem o seu trabalho. Quebrar o ciclo. Não dar as mesmas oportunidades aos mesmos, principalmente quando há tanta gente com talento e vontade de trabalhar. As entidades precisam de começar a tomar mais atenção ao que as rodeia, a procurar em novos sítios, novas pessoas. Criar mais oportunidades de estágios remunerados ainda durante a formação académica, que se possam transformar em propostas de trabalho dignas e justas, também nos parece um caminho. Mas também há o outro lado da moeda: também é preciso que os jovens estejam dispostos a criar o seu próprio trabalho, a arranjar plataformas e mecanismos de se fazer ver. Foi o que tentámos fazer com o Call Center, por exemplo, e que esperamos que inspire jovens colegas a fazer o mesmo. Se o trabalho não aparece, criamos. Se ninguém nos vê, se não nos ouvem, gritamos mais alto.


O sonho comanda a vida?

No grupo surgiram respostas contraditórias, como não poderia deixar de ser quando temos cinco cabeças diferentes a pensar (risos). Não sabemos se o sonho deve comandar a vida, mas acreditamos que deve haver sempre espaço, na vida, para sonhar. O sonho é um caminho que se constrói todos os dias, não vai haver um dia em que acordamos e o sonho está cumprido, terá sempre de fazer parte do que nos guia, mas que seja um complemento a tudo o resto que nos faz viver. O sonho é, de facto, um motor de arranque, mas não basta sonhar.

 

A vossa perspetiva relativamente ao futuro é positiva, ou nem por isso?

É positiva, sim, mas queremos acreditar que também é realista. Temos noção do panorama atual e sabemos que não será nunca um caminho fácil. Mas acreditamos e lutamos o suficiente para sentir que há espaço para mudar, para se fazer mais e melhor. Sonhamos o suficiente para acreditar que é possível.

Apoiar

Se quiseres apoiar o Coffeepaste, para continuarmos a fazer mais e melhor por ti e pela comunidade, vê como aqui.

Como apoiar

Se tiveres alguma questão, escreve-nos para info@coffeepaste.com

Segue-nos nas redes

Call Center com Bárbara Godinho, Bárbara Rosa, Duarte Mocho, Inês Barros e Manuel Pedro Silva

Publicidade

Quer Publicitar no nosso site? preencha o formulário.

Preencher

Inscreve-te na mailing list e recebe todas as novidades do Coffeepaste!

Ao subscreveres, passarás a receber os anúncios mais recentes, informações sobre novos conteúdos editoriais, as nossas iniciativas e outras informações por email. O teu endereço nunca será partilhado.

Apoios

01 República Portuguesa
02 Direção Geral das Artes
03 Lisboa

Copyright © 2022 CoffeePaste. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por

Call Center com Bárbara Godinho, Bárbara Rosa, Duarte Mocho, Inês Barros e Manuel Pedro Silva
coffeepaste.com desenvolvido por Bondhabits. Agência de marketing digital e desenvolvimento de websites e desenvolvimento de apps mobile