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Não, não, não...

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Joana Neto
19 de Abril de 2024

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Não, não, não...

Numa altura em que se multiplicam as cerimónias evocativas do 25 de abril, uma data de uma enorme importância para todos os democratas portugueses, os Palmilha Dentada avançam com um espetáculo cujo título é, antes de tudo, uma provocação. Uma provocação feita com a dose de sarcasmo que lhes é habitual.


"O 25 de abril nunca aconteceu..."


Que país seria Portugal se a transição para a democracia, por via de uma Revolução pacífica, não tivesse acontecido?


Para dar sentido a este repto vão desfilando personagens tipo, o comunista, o anarcossindicalista, o esquerdista mais centrista, o "larilas" reprimido, o chefe da empresa, a filha de opositores silenciosos, entre outros. No meio deles pode estar um bufo, um PIDE.


A sombra da polícia política mergulha-os numa lógica de conspiração que tem tanto de tenebrosa quanto de facilitadora de uma dramaturgia que pretende explorar o ridículo da proibição do direito de reunião e manifestação. Sim, que isso de sair à rua é muito perigoso. Não se vá encontrar alguém, não vá o diálogo precipitar um golpe de Estado...

Curiosamente, o chamariz para a mudança, e não há acasos, é feito a partir de referências da sociedade de consumo do sistema capitalista, a coca cola, as crocs, a música da Ami que talvez seja Amy. É como se a antítese do regime, tão ou mais que garantir direitos de participação política, ou quebrar um protecionismo que mantinha em surdina os grandes empresários aliados nacionais do regime, fosse essa impossibilidade de experimentar o que nos apetece. Não faz sentido, pensará um miúdo com borbulhas na cara, ter de ir à Galiza para beber uma bebida açucarada às escondidas. E se essa evocação sistemática da coca cola pode parecer bizarra, é um chamariz para os que, confortavelmente sentados em cima da adolescência, não fazem ideia do que é viver sem poder escolher... Para eles, o 25 de abril é algo que aconteceu em 20 e tal de abril, como se assinala no texto, e há uma flor, um cravo, que simboliza o acontecimento. Trata-se de uma revolução poética, pacífica, sem banho de sangue. Parece impossível, não é?


Com o sarcasmo que marca os textos de Ricardo Alves, os arquétipos são ferramenta para unir gerações, gerações que viveram de forma tão diferente o 25 de abril que aconteceu.


Os papéis de género são reproduzidos mostrando o cinzentismo, a injustiça brutal do lugar subalterno que as mulheres ocupavam e ocupariam se aquele dia não tivesse acontecido.


Ainda assim, as mulheres aparecem representadas não apenas como submissas e resignadas, mas como pessoas perspicazes e que confundem pides tontos. Os tais que não compreendem o sarcasmo, que ascendem à custa da denúncia e que aspiram a sentir-se grandes no exercício de pequenos poderes. O trabalho infantil era normalizado tal como aparece evidenciado, mostrando qual era o horizonte de pessoas oriundas das classes trabalhadoras e populares.


Os atores divertem-se, isso percebe-se, é uma inevitabilidade nos Palmilha e o público, fiel, procura a companhia nortenha para se poder divertir a pensar. O exercício de simplificação para passar a mensagem, sobretudo quando se parece dirigir, não só mas também, a um público bastante jovem, é mais complexo do que parece.


Na verdade, está longe de ser líquido que o espetáculo, sem qualquer suporte ou enquadramento, possa ser compreendido por gerações herdeiras de uma revolução que está a envelhecer, a perder os seus testemunhos vivos e menos presente do que se esperaria nos livros de História.


Na interpretação temos várias gerações de atores: Beatriz Baptista, Eloy Monteiro, Ivo Bastos, Filomena Gigante, Mário Moutinho, Rodrigo Santos, Valdemar Santos. Entre a enorme experiência de Mário Moutinho e a frescura de Beatriz Batista percebe-se a intenção de um encontro. Um encontro que se espera que ocorra também no público.

Estava, pela Coffeepaste, no público, junto de uma sala cheia de estudantes inquietos que há 50 anos não só dificilmente sairiam da escola para ir ao teatro ver uma peça que não fosse um Frei Luís de Sousa, (perceberão a ironia desta referência ao ver o espetáculo) como não se atreveriam a um suspiro durante as cenas. Muito menos ousariam, depois do black out, gritar do fundo da sala, sabe-se lá com que intuito: "Viva o Salazar".
Mas e se o 25 de abril nunca tivesse acontecido?


Espera-se que, à saída do espetáculo, algumas das pessoas possam responder à pergunta: Queremos voltar aquele país obscuro que Portugal seria se o 25 de Abril não tivesse acontecido?


A resposta deve ser clara como a letra da música da Amy Winehouse: "Não, não, não"!

Apareçam no Teatro Carlos Alberto até ao dia 27 de abril. 


O 25 de Abril Nunca Aconteceu

Texto e Encenação: Ricardo Alves

Teatro Carlos Alberto - Porto

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