
Por Jorge Silva Melo
E devagarinho, os teatros entreabrem-se, os festivais recomeçam, os. actores maquilham-se, vestem-se, despem-se, são aplaudidos como se fossem heróis, os espectadores marcam agendas e aperaltam-se. Há máscaras, um bocadinho de cachets (pequeninos, pequeninos), lugares marcados, cumprimentos festivos como se os náufragos tivessem chegado a uma qualquer costa (ai que palavra, esta!).
Pois, já não se fala em greve (um disparate), em demissões (outro disparate), em percentagens, fala-se em “submeter” (mais um anglicismo – e é submisso este), fala-se em cartas, em programadores, em projectos, em residências nas hospedarias artísticas.
A vida retoma o seu triste e submisso curso, a festa (tímida) recomeça, mortiça.
Mas isto está mal e não há maneira de escondermos a tristeza, estamos à toa.
Não podemos fazer teatro com falsos recibos verdes, não podemos fazer teatro sem planeamento, não podemos fazer teatro sem horizonte, não podemos fazer teatro sem país. (E é claro que a pandemia só veio agravar o que já era mais do que grave e ninguém queria ver, entretida que andava toda a gente com a Festa do Poder.)
Pois é. estamos à toa, sorrindo.
Não me venham pedir “políticas culturais”, expressão com que o genial Malraux rebaptizou a “propaganda”; não me venham falar em “independência” (está ferida de morte); não me venham falar em “designios políticos”. Era bom podermos falar de livros, de espectáculos, de filmes, de música. Assim, devagarinho e calmamente.
O que foi a “contestação”? Mais um juvenil acne? Mais umas borbulhas para vaidades & declarações?
Trabalhemos.
E que teatro faremos?
Estamos à toa e era bom confessá-lo, caraças.
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E tudo na vida passa , as boas e as ruim. Aínda bem, estará devagar se renovando para um futuro melhor acredito, com mais humanidade, cada ser se transformou um pouco. ,🌷
Não estou tão optimista quanto Cléo! Penso também que estamos todos à toa! E não só nas áreas das Artes.