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Alfredo Martins: 'Liquid Becomings' e a Europa em Transformação

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COFFEEPASTE
6 de Novembro de 2024

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Alfredo Martins: 'Liquid Becomings' e a Europa em Transformação

Em novembro, Lisboa torna-se palco do projeto The European Pavilion 2024: Liquid Becomings, um evento que pretende abrir o diálogo sobre o futuro cultural e social da Europa. Com uma programação inovadora, o evento promove uma reflexão sobre o que significa ser europeu num momento de crise e transformação. O projeto, concebido pela Fundação Cultural Europeia e co-organizado pela rede Espaço Agora Now, envolve quatro viagens de barco por rios europeus - Danúbio, Reno, Vístula e Tejo - e traz a Lisboa artistas de diferentes nacionalidades e áreas, todos com experiências e produções artísticas resultantes dessas travessias.


Em entrevista ao Coffeepaste, Alfredo Martins, co-organizador e curador do evento final, fala sobre os objetivos e as escolhas por trás da programação em Lisboa, que inclui performances, leituras, instalações, e momentos de convívio comunitário em locais como a Doca do Poço do Bispo, o Clube Oriental de Lisboa e a Biblioteca de Marvila. De obras visuais de Adriana Proganó à leitura de Fábulas da Maldade para uma Europa Líquida, de Gonçalo M. Tavares, o evento destaca-se pela sua diversidade artística e pelo seu propósito de promover uma visão europeia plural e inclusiva. Ao longo da entrevista, Alfredo reflete ainda sobre o impacto social da arte e o futuro do continente, num diálogo que antecipa temas de grande urgência para a identidade e o papel da Europa nos próximos anos.


Como é que surgiu “The European Pavilion 2024: Liquid Becomings” e qual é a missão do evento?

O Pavilhão Europeu é o projeto que venceu o concurso para a organização do Pavilhão Europeu 2024. É um projeto da Fundação Cultural Europeia que revisita de alguma forma crítica a ideia dos pavilhões nacionais e que pretende pensar, repensar o que é que é a Europa e qual é o seu futuro. Nós fazemos parte de uma rede internacional que é o Espaço Agora Now, candidatámo-nos com este projeto, o Liquid Becomings, que tem no seu centro quatro viagens de barco por quatro rios europeus - o Danúbio, o Reno, o Vístula e o Tejo. As tripulações destes barcos são constituídas por artistas que responderam a um call - artistas de diferentes áreas e diferentes nacionalidades - e estas viagens funcionaram como uma espécie de residência/performance duracional ao longo das quais puderam explorar aquilo que ia surgindo ao longo do rio e também produzir alguma resposta a essas experiências.


O evento final em Lisboa tenta, por isso, partilhar o que é que foi o projeto e o que é que foram estas experiências das viagens, colocando em diálogo com a programação de artistas locais e criando espaços, precisamente, de reflexão à volta do que é a Europa.


Este ano, o evento final vai realizar-se em Lisboa. Que caminhos levaram a cidade a acolher o evento?

Eu sou artista associado do Teatro Meia Volta e eu e o Teatro Meia Volta também fazemos parte desta rede internacional de artistas, curadores, produtores que se chama Espaço Agora Now. E no contexto desta rede, que é uma rede de programação, curadoria, criação, residências artísticas, organizámos entre vários parceiros esta proposta para esta candidatura. Houve eventos a acontecer em vários países, para além das viagens que atravessaram o interior da Europa. E, talvez por este contexto de limite de continente, decidimos que o evento final seria em Lisboa.


Em termos de localização, que espaços da cidade vão ser ocupados pelas atividades do “The European Pavilion 2024”?

Nesta edição do Pavilhão Europeu tomámos a opção de colocar toda a programação do lado oriental da cidade, numa linha que corre esse lado de norte a sul. São vários os espaços em que vamos ter programação. Um é a Doca do Poço do Bispo, onde vai estar a ser montado um dos barcos que fez uma das viagens. Depois, o Clube Oriental de Lisboa, que vai ser o espaço mais noturno, onde vamos ter concertos e espaços de convívio. Temos também a Biblioteca de Marvila, onde vamos acolher conversas e leituras. A seguir, a Escola EB23 Pintor Almada Negreiros, onde um grupo que esteve a trabalhar com o Valete vai apresentar o resultado deste projecto. E, finalmente, a Quinta Alegre, no limite norte, onde sobretudo os artistas que participaram nas viagens vão apresentar o resultado e a sua reação a essa experiência.


Como co-organizador e curador do evento final em Lisboa, podes falar-nos sobre os objetivos que orientaram a composição da programação deste ano?

Um dos primeiros objetivos da programação é responder ao tema do Pavilhão Europeu: criar espaços de reflexão e discussão sobre o que é que é uma identidade europeia, um balanço do ponto em que estamos enquanto europeus e também que futuro nos espera. Outro dos objetivos é poder partilhar com o público a experiência destas quatro viagens que atravessaram o interior da Europa com uma mudança constante de paisagens e de experiências. E depois, por último, cruzar esta discussão e estas experiências com a produção artística local. Por isso, convidámos também artistas daqui de Lisboa, alguns para apresentarem projetos e espetáculos que já tinham e que de alguma maneira dialogavam com os nossos temas, e outros foram mesmo encomendas para produzir novos objetos.


O evento conta com uma nova exploração literária de Gonçalo M. Tavares, um autor consagrado. Podes falar-nos um pouco sobre o que esperar desta participação?

Nós convidámos o Gonçalo M. Tavares para escrever uma história, uma narrativa curta sobre os temas do projeto e também sobre uma reflexão em relação à Europa. E ele escreveu um texto que se chama “Fábulas da Maldade para uma Europa Líquida”, que vai ser lido na Biblioteca de Marvila, no dia 9, às 14h30. Convidámos a Tita Maravilha para fazer uma leitura encenada deste texto e a artista visual Adriana Proganó para reagir a essa leitura ao pintar uma tela.


Outro destaque do evento é o espectáculo “Silent Disco”. Que experiência será proporcionada aos participantes nesta atividade?

“Silent Disco” é um espectáculo dirigido por mim, com produção do Teatro Meia Volta. É um espetáculo que já estreou em 2019, na BoCA - Bienal de Artes Contemporâneas, mas que nos pareceu que fazia sentido trazer de novo a Lisboa no contexto desta apresentação e deste evento. O projeto, como o nome indica, utiliza a tecnologia de silent disco, mas como estratégia de guiar um público por um ambiente que simula uma noite de discoteca, de clubbing, em que se propõe uma reflexão sobre as possibilidades de construir um coletivo e sobre as possibilidades de construir um coletivo de resistência. Vai acontecer no dia 9, às 22h00, no Clube Oriental de Lisboa.


Para além destas iniciativas, o que mais te ocorre destacar na programação?

O programa é muito diverso, tem propostas muito diferentes. Destaco o dia de abertura entre a Doca do Poço do Bispo e o Clube Oriental de Lisboa, que é no dia 7, a partir das 17h00, em que teremos a abertura com um grupo de percussão e depois um concerto das Batucadeiras das Olaias, e a seguir um jantar comunitário preparado por pessoas que pertencem a comunidades imigrantes de Lisboa e seguimos com DJs no resto da noite. Outro destaque é a ocupação da Quinta Alegre, com o resultado das quatro viagens que foram feitas pelos rios, em que todos os artistas que participaram vão mostrar

trabalhos. Temos também, no dia 9, logo a seguir à leitura do texto de Gonçalo M. Tavares, uma conversa que estamos a chamar de Conversa Exploratória e que conta com a participação de dois convidados, o filósofo nigeriano Báyò Akómoláfé e a antropóloga americana Elizabeth Povinelli, e moderação de Ritó Natálio. Um momento importante para tentarmos apanhar todas as pontas deste projeto e pensar sobre os temas. E, à noite, no Clube Oriental, voltamos a ter a apresentação do “Silent Disco” e depois também uma noite com DJs.


A diversidade parece ser uma palavra-chave no evento. Como é que esta ideia de diversidade se reflete nas atividades programadas?

Para além da diversidade que faz parte das quatro viagens que atravessaram territórios muito diferentes, desde natureza quase intocada até ruínas industriais, tentámos também que a programação tentasse refletir essa diversidade que se espera que faça parte da identidade europeia. Por isso, convidámos artistas que possam traduzir precisamente essa diversidade da Europa e colocámos a programação em locais onde, de facto, essa diversidade existe, pelas características do território, pelas comunidades que os ocupam e pelo tipo de práticas culturais que já são próprias desse território.


Na tua opinião, a Europa precisa de mais espaços culturais ou a resposta depende da geografia e do contexto local?

A Europa é muito diversa e tem territórios muito distintos entre si, socialmente, culturalmente, economicamente. Portanto, cada comunidade tem também necessidades diferentes a todos estes níveis. Acho que é importante criar os espaços ou garantir que eles existem para cada uma das comunidades, na medida do que elas sentem que é necessário. E, para isso, é preciso uma governação e uma governança próxima das populações.


Para terminar, como imaginas a Europa daqui a 10 anos, no contexto cultural e social?

Eu atrevo-me a dizer que a Europa daqui a 10 anos vai ser muito diferente da Europa que temos agora. Estamos a viver uma crise climática, temos duas guerras à porta da Europa ou até já com o pé dentro do continente, temos uma crise económica, temos uma escalada da extrema-direita populista e acho que não vamos passar por este período sem nenhum arranhão. E parece-me que a Europa vai ter necessariamente de mudar, repensar-se, abrir-se também.

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