Por Rachel CaianoGosto de utilizar o diário gráfico como um bloco de notas, notas estas que podem ser: esboços, apontamentos escritos, listas de compras, poemas, moradas, números de telefone, lembretes etc.
Este espaço é um espaço de liberdade, porque admite o erro e a mistura de registos. O diário é também uma forma de fixar um dia, um momento no papel. Uma forma de materializar o tempo.
O desenho de algo que se movimenta, que não é constante e é difícil de captar, pede o gesto rápido, a energia na ponta do lápis.
E essa energia, a potência do esboço é algo que tenho tentado utilizar no meu trabalho. O esboço, o desenho rápido, traz consigo uma energia em potência que por vezes funciona melhor do que o desenho depurado e muito trabalhado. É um registo que cada vez mais me interessa.
Tentar desenhar como se fosse a primeira vez. Outra primeira vez e mais outra primeira vez, rápido e curto.
Este último ano, com a pandemia e a imobilidade forçada, acabei por não utilizar os cadernos, que costumo levar sempre que me desloco, ando de transportes, vou a escolas ou assisto a uma conferência - para mim os diários gráficos estão muito associados ao movimento.
Partilho aqui algumas páginas que nasceram em data incerta no auditório 2 da Gulbenkian em encontros sobre literatura e artes para a infância (infelizmente muitos dos meus cadernos ficam órfãos de tempo).
Tenho saudades do movimento, das salas cheias, dos narizes no ar e das bocas abertas de espanto.
Rachel Caiano. Artista plástica e ilustradora, com formação em artes do palco, tem vindo a desenvolver projetos nas áreas da pintura, cenografia, figurinos e ilustração.
Esta iniciativa resulta de uma parceria Coffeepaste / Prado. A Prado é uma estrutura financiada pela DGArtes / Governo de Portugal para o biénio 2020/2021.