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É incrível a capacidade que pode ter a música para nos transportar além do habitual, e para nos situar noutros estados invulgares de perceção. A música mais do que a letra, embora as qualidades poéticas das canções, nas suas letras, também possam fazer o seu contributo para estas mudanças mágicas. Porém, esses brilhos indecifráveis ainda se acrescentam, do meu ponto de vista, quando essas palavras das canções estão em línguas estrangeiras, tal qual acontece com os temas da banda portuguesa Micro Audio Waves.
Hoje o inglês é uma língua franca que quase todas as pessoas percebem no básico, mas, nem por isso, o seu uso dita uma espécie de distância. Na relação artística, esta distância é muito rendível para estabelecer atmosferas invulgares que atinjam o extraordinário. As palavras noutras línguas não maternas, em geral, embora possam ser percebidas no básico, acrescentam qualquer coisa de exótico e, no caso de Micro Audio Waves, parecem fundir-se e confundir-se com as ondas sonoras, para gerar uma envolvência que vai além do que se diz. A voz não fala. A voz não canta. A voz toca. A voz dança.
Acho que acontece algo muito similar com a dança e com as ações da luz.
A coreografia ou o que escrevem os corpos com os seus movimentos, assim como o facto de serem espaço dinâmico e energético que faz com que mude o espaço à sua volta, também dão um texto indecifrável que, porem, nos afeta e nos muda a nós também.
No que diz respeito das ondas luminosas e o seu movimento. Além do desenho de luz, que pode estruturar diferentes efeitos no desenrolar de um espetáculo, a ação da luz seria aquele processo em que as suas mudanças nos permitem sentir que conduzem para algures, embora esse algures seja inefável. Aliás, esse processo resulta, de qualquer maneira, expressivo. Eis um possível pormenor no que diz respeito à ação, dentro do campo disciplinar da dramaturgia.
Em conclusão, a conjugação da música com a dança e com a luz, quando estas são tratadas como ação cénica, multiplica as possibilidades de que a magia emerja sobre o palco, e a plateia, o público, descole como uma aeronave fantástica. Isto foi o que senti que se passou no sábado, 9 de março de 2024 no Centro Cultural Vila Flor de Guimarães, com a sua coprodução GLIMMER de Rui Horta & Micro Audio Waves.
A viagem musical da banda pop rock Micro Audio Waves adquire uma dimensão extremamente visual com a performance capitaneada pela cantora Cláudia Efe e pela coreógrafa e bailarina Gaya de Medeiros, seguidas, muito de perto, pelos outros três integrantes da banda: Carlos Morgado, Flak e Francisco Rebelo.
As ações com os dispositivos de luz, manipulados diretamente em palco durante a atuação, e também por controlo remoto, além das 230 memórias de luz marcadas por Rui Horta, partilham intensidades atmosféricas e cinéticas com a dança, a videoarte no ecrã móbil superior, e com outros objetos e dispositivos cénicos (os vasos com diferentes tipos de plantas, os lenços dourados e prateados, a enorme bandeira, etc.). Esse encontro entre o tecnológico e o humano acaba por fazer surgir sobre o palco passagens futuristas e muito lúdicas, simulacros de batalha e luta, mas, sobretudo, o encontro e a fusão com a natureza e a tecnologia. A fusão também entre duas presenças e energias, as de Cláudia e as de Gaya, que religam no diverso e que, com toda a banda, nos levam a um espaço de emoções áureas. Aquelas emoções que nos movem sem necessidade de causalidades nem explicações. E que, portanto, nos libertam disso: do facto de estar sempre presos da lógica causal e de termos que dar ou receber explicações e justificações por tudo na vida. Emoções áureas que só vamos conseguir com a cumplicidade, a conexão, o encontro e a integração.
“Agimos como mortais em tudo o que tememos, e como imortais naquilo que sonhamos”, diz um dos temas da banda. GLIMMER rodopia por esse agir como imortais.
FICHA ARTÍSTICA:
Direção, desenho de luz e espaço cénico Rui Horta
Coreografia Rui Horta, Gaya de Medeiros
Música original Micro Audio Waves (Claudia Efe, Carlos Morgado, Flak e Francisco Rebelo)
Intérpretes Claudia Efe, Gaya de Medeiros, Carlos Morgado, Flak e Francisco Rebelo
Conteúdos digitais e desenvolvimento de software Guilherme Martins
Realização vídeo Stella Horta
Direção de fotografia Tomás Vieira
Vídeo ‘Liquid Luck’e consultoria LED David Ventura
Video ‘Liquid Luck’ e grafismo promocional Marco Madruga
Figurinos Constança Entrudo
Figurinos do vídeo ‘Pacific Airways’ Sofia Braga
Direção de produção Pedro Santos
Direção técnica João Chicó
Som Artur David
Roadie Sérgio Barata
Assistente de iluminação e palco Pedro Guimarães
Comunicação this is ground control
Entidades coprodutoras
Teatro Aveirense / estreia
A Oficina/Centro Cultural Vila Flor
São Luiz Teatro Municipal
Teatro Municipal de Ourém
CCC Caldas da Rainha
Cine-Teatro Curvo Semedo
Teatro Viriato
Produção Modern Drift
Agradecimentos especiais
João Aidos
Maria Ana Franco de Sousa / Prodança
Equipa d'A Oficina/Centro Cultural Vila Flor, pelo apoio na residência na Fábrica ASA
Equipa do Teatro Aveirense pelo apoio na estreia
Miguel Seabra / Teatro Meridional
Intérpretes vídeo ‘Neon Gods’: Alex Bernardo, André Teodósio, Aviva Netto Obst, Catarina Rodrigues, Carlos Carvalho, Clara Morgado, Daniel Matos, Diogo Passucu, Emília Melo Dias, Francisco Cordovil, Joana Cardoso, Julita Santos, Leonor Brito, Máximo, Paula Albuquerque, Paulo Lisboa, Sebastião Albuquerque, Victor Gonçalves
Grande Auditório Francisca Abreu do Centro Cultural Vila Flor de Guimarães, 9 de março de 2024.
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