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Filipe Teixeira - Entrevista

14 de Outubro de 2015

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Filipe Teixeira - Entrevista
600_FilipeTeixeiraEsta semana viajamos até à região Centro para conversar com o Diretor Pedagógico do Conservatório Regional de Coimbra, Filipe Teixeira.

Fala-nos um pouco do teu percurso.
Tenho 43 anos e sou natural de S. João da Madeira onde vivi até aos meus 18 anos. Sendo filho da pianista Nelly Santos Leite, desde muito cedo tive contacto com a aprendizagem da música. Aos 5 anos de idade comecei a ter aulas de educação musical e de piano. Aos 12 anos iniciei os estudos musicais, em curso oficial, na Academia de Música de S. João da Madeira, na classe de violoncelo do professor José Pereira de Sousa. Em casa, sempre se ouviu muita música, principalmente obras para piano, mas também música de câmara, canto, música orquestral, sinfónica, assim como jazz, rock e música popular. Em 1998 conclui a Licenciatura em Ensino de Música na Universidade de Aveiro, cidade onde vivo atualmente. Ao longo deste percurso, como violoncelista, integrei vários grupos e projetos tanto no âmbito da música erudita como de cariz mais popular. Vocalmente fui membro do Coro de Câmara de S. João da Madeira e do Vocal Ensemble da Universidade de Aveiro. Em 1998 iniciei a minha atividade como professor de violoncelo no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian em Aveiro. Desde 1999, como professor de violoncelo e música de câmara, no Conservatório de Música David de Sousa na Figueira da Foz, e no Conservatório Regional de Coimbra, onde ocupo funções na direção pedagógica desde o ano de 2004.

Como está o ensino artístico em Portugal?
Julgo que Portugal evoluiu muito nas últimas duas décadas relativamente ao ensino artístico especializado (EAE). O nível apresentado por muitos alunos de música e de dança em Portugal é francamente bom, e em alguns casos mesmo de excelência. Exemplo disso são os vários músicos, maestros, compositores, coreógrafos e bailarinos portugueses reconhecidos e premiados na Europa e no mundo. Nesta perspetiva é de salientar o trabalho desenvolvido pelas escolas do EAE de Música e de Dança, que para além de desempenharem um papel fundamental na educação e formação destes jovens cidadãos, músicos e bailarinos, competentes mas também atentos e críticos em relação ao panorama sociocultural envolvente, são também em si importantes centros de criação e de produção artística, assim como polos essenciais de dinamização cultural nas diversas regiões onde exercem a sua atividade. É fundamental que os nossos governantes e aqueles que têm poder de decisão nesta matéria, percebam que desinvestir agora nestas escolas é destruir um longo caminho que vem sendo percorrido, e retroceder décadas de trabalho com provas dadas. Infelizmente nos últimos anos tem existido uma política para este sector que vem asfixiando estas escolas com sucessivos cortes nos apoios e a consequente limitação no número de alunos abrangidos pelo financiamento, quer através dos fundos estruturais europeus ou por parte do Ministério da Educação e Ciência, impossibilitando a frequência desta valência àqueles que efetivamente querem aprender música e dança e não têm possibilidades financeiras para o fazer. Existe uma clara desigualdade, nas várias regiões do território português no acesso ao ensino artístico, violando um princípio fundamental consagrado na constituição da república portuguesa, que é o princípio da igualdade de oportunidades, no acesso à educação, no acesso ao ensino artístico e no acesso à cultura.

Têm passado por ti muitos jovens. Todos têm a ambição de serem músicos profissionais ou alguns procuram apenas uma formação mais completa?
O Conservatório Regional de Coimbra, sendo uma escola fundada em 1934, conta com uma larga experiência no ensino artístico especializado da música, e, no âmbito do nosso projeto educativo, procuramos dar aos alunos uma formação plena, integral e integrada, com o rigor e excelência que se pretende no ensino artístico especializado da música, mas sempre numa perspetiva inclusiva e abrangente aos vários géneros e estilos musicais, assim como a outras formas de expressão artística. Considero que esta abertura às artes, ao mundo dos sons e aos sons do mundo, é fundamental para uma aprendizagem mais consciente e criativa. Sabemos que nem todos os nossos alunos vão ser músicos profissionais, e que muitos procuram apenas uma formação mais completa, até porque será muito difícil decidir o futuro profissional aos 9 ou 10 anos de idade, no entanto, e há vários estudos que o comprovam, a aprendizagem da música e das artes desenvolve nos jovens alunos uma série de competências e habilidades que lhes permitem ter um melhor desempenho em todas as outras áreas do conhecimento, contribuindo assim também para o sucesso escolar na componente geral do ensino e formando jovens mais capazes para os desafios que vão enfrentar no futuro.

Este foi um ano de luta para os professores do ensino artístico. Quais as medidas a tomar para melhorar o ensino artístico especializado?
Lamentavelmente os últimos anos têm sido extremamente difíceis para este sector do ensino, quer para as direções, quer para os profissionais, professores e funcionários, que trabalham nestas escolas. A excessiva burocracia e os constantes atrasos na transferência das verbas, quer pelo Fundo Social Europeu, através do POPH/POCH, entre os anos 2011 e 2015, quer pelo Ministério da Educação e Ciência no âmbito do Contrato de Patrocínio celebrado anualmente com as escolas do EAE, colocam estas instituições e os profissionais deste sector numa constante precaridade laboral e de instabilidade financeira. São conhecidos os inúmeros casos de professores, que nos últimos anos, tiveram, e continuam a ter, vários meses de salários em atraso. Não será difícil para qualquer cidadão imaginar-se numa situação semelhante e as implicações que isso conduziria para as suas vidas ao nível pessoal e familiar.

Entendo que tem de existir uma política estrutural e de fundo para o EAE, e que, obrigatoriamente, deve passar por uma revisão e regulamentação atempada das normas e condições de financiamento para os próximos anos letivos. É fundamental que se criem mecanismos eficazes para que as escolas do ensino artístico possam ter alguma estabilidade e para que seja reposta a dignidade necessária aos trabalhadores que nelas exercem a sua atividade.

Se tivermos em consideração que as escolas começam a preparar o ano letivo seguinte a partir de abril, reunindo com os encarregados de educação, divulgando esta oferta formativa nas escolas regulares, realizando as provas de aptidão aos alunos candidatos, constituindo turmas, distribuindo cargas letivas pelos docentes, criando legitimas expetativas nos alunos e nos professores, e que ultimamente só conhecem a realidade do número de alunos financiados em meados de outubro, já com o ano letivo a decorrer, torna-se muito difícil e inglório qualquer exercício de preparação e organização, deitando por terra todo o esforço e trabalho árduo elaborado pelas direções das escolas para que tudo funcione em prol de um ensino de qualidade e excelência. É essencial que os responsáveis políticos e institucionais com poder de decisão tenham a consciência e a perceção que estamos a falar de pessoas e não de números.

Qual o papel da Arte numa sociedade em crise?
Um povo afirma-se pela sua arte, é pela cultura que declara a sua identidade. Na minha opinião, e com a atual conjuntura socioeconómica, é fundamental combater esta crise, não só na sua vertente financeira e económica, mas principalmente através da melhor formação e educação dos seus cidadãos, tornando-os mais capazes, mais responsáveis e ao mesmo tempo mais criativos e participativos na construção social do futuro. A arte é que nos valoriza enquanto seres individuais e enquanto seres sociais. É através da arte e da cultura que crescemos e evoluímos. A arte dá-nos diferentes visões da realidade e do imaginário. O que seria um mundo sem arte? Sem música, sem dança, sem pintura, sem poesia, sem teatro, sem…
A arte é o que nos dá a humanidade!...

Só com um maior investimento e empenho dos governos e da sociedade civil na educação, na arte e na cultura é que um país como Portugal se poderá verdadeiramente afirmar na Europa e no Mundo como o pequeno Grande país que é.

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