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João Gabriel: a intuição, o desejo e a liberdade na pintura

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COFFEEPASTE
20 de Janeiro de 2025

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João Gabriel: a intuição, o desejo e a liberdade na pintura

João Gabriel, artista visual cuja trajetória ultrapassa já uma década, reflete sobre um percurso marcado pela dedicação e evolução constantes. Com uma abordagem intuitiva que parte de imagens iniciais para dar espaço ao inesperado, João explora temas como desejo e sexualidade, equilibrando a complexidade narrativa sem a intenção de transmitir mensagens fechadas.


Inspirado por filmes underground queer, referências artísticas como Bacon e Matisse, e até pela sua formação na ESAD, o artista constrói uma estética única, onde elementos formais emergem das suas vivências, memórias e influências. Ao longo dos anos, enfrentou desafios, como a resistência inicial a abordar temas considerados ousados, mas transformou essas experiências em combustível para reafirmar o seu caminho artístico. João Gabriel encara o ato de criar como uma constante, uma prática que transcende a produção e se torna uma forma de viver e aprender.


Expões há mais de 10 anos. Que balanço consegues fazer do teu percurso?

Já passaram 10 anos? Na minha memória foi ontem. Sinto-me feliz por ter estado tanto tempo dedicado a isto, acho que isso é o maior privilégio que um artista pode ter, sobretudo por ter tido o tempo necessário para desenvolver o trabalho com a calma que ele precisou. Acima de tudo estou feliz porque passou todo este tempo e ainda estou a aprender com o trabalho.


Como se dá o teu processo de criação? Partes de uma ideia conceptual clara ou deixas que as obras se desenvolvam de forma mais intuitiva?

Começo com uma ideia; uma imagem na minha cabeça, que me faz querer começar uma pintura, mas idealmente essa imagem é apenas o ponto de partida para uma pintura que eu não sei que forma vai tomar. Pelo menos é assim que faz sentido para mim, que a pintura me devolva algo inesperado.


Quais são os principais desafios que enfrentas ao transformar temas complexos, como a sexualidade e o desejo, em obras visuais?

Eu diria que o maior desafio não tem a ver com a complexidade dos temas, mas antes com a dificuldade de construir uma pintura que não seja demasiado fechada na sua narrativa - por um lado, acho sempre aborrecido quando uma obra tenta ensinar algo, e por outro isso pode facilmente eclipsar tudo o resto.


A escolha por filmes underground queer como inspiração foi deliberada ou aconteceu de forma orgânica? O que representam para ti no contexto artístico?

Aconteceu naturalmente, fruto de uma pesquisa por imagens que me servissem para o que queria fazer, não foi uma escolha pensada, mas antes o resultado de uma ligação forte que senti com aqueles filmes no momento em que os descobri.


Trabalhas frequentemente com uma paleta de cores específica e uma estética distinta. Como é que essas escolhas refletem as mensagens que queres transmitir?

Eu não quero transmitir mensagem alguma. Os aspetos formais das minhas pinturas são consequência de muitas coisas, das pinturas que vi e pelas quais me apaixonei; da forma como fui aprendendo a fazer as coisas, das imagens que uso como referência; das paisagens que me são familiares; até dos desenhos que fazia quando era pequeno…


Qual é o papel do desejo e da sexualidade no teu trabalho? Encaras esses temas como universais ou como uma ferramenta de crítica social?

Muitas das pinturas que me marcaram têm uma forte carga erótica e acho que isso talvez seja uma característica do próprio meio da pintura. Há algo erótico na tinta e no processo de pintar.  mesmo quando o meu trabalho não passava por aí de forma explícita, que foi durante muito pouco tempo, mantinha o desejo de o fazer, que se foi tornando cada vez mais forte. A determinada altura ficou demasiado evidente para mim que o meu caminho teria de seguir por aí.


Já enfrentaste censura ou resistência por causa dos temas que abordas? Como lidaste com isso?

Já, mais no início quando comecei a fazer o que faço. Nunca foi de forma direta, ou melhor, as pessoas achavam que não estavam a ser homofóbicas quando o que me diziam mostrava o contrário. Disseram-me muitas vezes para não seguir por esta “temática” porque iria ficar rotulado como o pintor gay, e que este tema iria divertir a atenção do que realmente interessa. Isso foi mau porque estava muito no início, inseguro e por isso suscetível a ser influenciado por essas vozes. Olhando para trás acho que, no final, a irritação que isso me causou ajudou-me a perceber que era mesmo isto que queria fazer.


Além dos filmes das décadas de 1970 e 1980, que outros artistas ou movimentos influenciam o teu trabalho?

São muitos, tanto na pintura como na música ou no cinema. Mas de forma direta, artistas cujas obras tenha reinterpretado ou até roubado elementos para usar nas minhas pinturas estão o Bacon, o Manet e o Matisse.


Como é que a tua formação na ESAD moldou a tua abordagem artística? Há algo da tua experiência nas Caldas da Rainha que ainda carregas contigo?

A formação na ESAD foi essencial; não só por causa das aulas, cheguei ali porque gostava de fazer desenhos, sem saber o mínimo sobre história de arte; mas também pela própria estrutura do curso, cuja maior parte do tempo é dedicado ao trabalho no atelier, que era partilhado por toda a turma. Acho que aprendemos muito nesta proximidade uns com os outros.


Como vês o papel das galerias, como a Lehmann, na construção da carreira de jovens artistas?

De forma geral não sei. No meu caso não só foi uma plataforma que fez o meu trabalho chegar a mais lugares, como também algo que me libertou muito de ter de lidar com a minha desorganização.


Quais são, na tua opinião, as principais barreiras que os artistas emergentes enfrentam no circuito de arte contemporânea em Portugal?

Talvez a falta de oportunidades, a precariedade e depois a dificuldade na internacionalização, que é um problema para qualquer artista português.


Acreditas que o mercado de arte está aberto a temas mais ousados como os que abordas?

Acho que agora é um momento particularmente bom a esse respeito, mas claro que continua a haver trabalho a fazer.


Quais são os teus projetos futuros? Há novas direções ou experimentações que pretendes explorar?

Neste momento estou numa fase que é sempre assustadora, faz uns meses que não trabalho por várias razões, uma delas tem a ver com o processo de preparação da exposição que acabei de fazer. Agora estou a lidar com o vazio que veio depois. Voltar a trabalhar depois de uma pausa destas é um processo complicado, perco a relação com o que estava a fazer e só saberei o que fazer a seguir quando começar a fazer alguma coisa.


Se pudesses colaborar com qualquer artista, vivo ou morto, quem seria e porquê?

Maria de Lourdes Modesto. Não sei que forma tomaria essa colaboração, na verdade, gostava apenas de a ter conhecido. Há magia na maneira como escreve as receitas.


Um artista está sempre a trabalhar?

Gostava de dizer que não, mas acho que sim. É ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição.

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