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Kurt Schwitters

Por

 

Leonel Moura
1 de Agosto de 2024

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Kurt Schwitters

Pioneiro de várias artes Kurt Schwitters não teve sorte na vida. Também não teve muita sorte na morte, pois nunca foi plenamente reconhecido como um dos mais importantes artistas do século 20.


Nascido em 1887, em Hanôver na Alemanha, atravessou duas guerras mundiais. Na primeira, alistado como desenhador técnico, não participou em combates. De qualquer modo, o horror da primeira guerra teve uma enorme influência nele e noutros artistas, levando, na verdade, à revolução artística da primeira década do século.


Na segunda, foi objeto de assanhada perseguição pelos nazis que lhe destruíram algumas obras, que consideravam arte degenerada, e o obrigaram a fugir, avisado por alguns amigos de que ia ser preso. Em 1937 foi para a Noruega, mas após a invasão desta pelos alemães, voltou a ser perseguido e a sua obra de novo destruída. Em 1940 fugiu para o Reino Unido, onde começou por ser preso, por ser alemão, e, uma vez libertado, viveu na miséria e isolado, num local remoto até à morte prematura, devido a um edema pulmonar, em 1948.


Apesar da pouca obra que sobreviveu, exerceu uma forte influência na arte, sobretudo no movimento Dada, no Expressionismo Abstrato, na Pop Art ou no Fluxus, e, na verdade, ainda a tem até aos dias de hoje, mesmo se a maioria não o conhece. Schwitters foi um inovador na pintura, na escultura, na fotografia, na performance, no grafismo e tipografia e na poesia sonora. Aliás, entre outras coisas, é com ele que nasce o conceito de instalação, desde então tão em voga na arte contemporânea.


(Merzbau, Hanôver, 1923)


Merzbau, obra total, espacial e evolutiva, é certamente o seu trabalho artístico mais conhecido. A primeira versão começou a ser criada em 1923 numa sala da sua casa em Hanôver, e foi crescendo até invadir praticamente todo o espaço. Nesta obra vanguardista, Schwitters incorporava objetos encontrados, artefactos pessoais e elementos arquitetónicos, criando uma fusão única entre colagem, pintura, escultura e arquitetura num ambiente imersivo absolutamente novo para a época.
Merzbau foi uma obra dinâmica. Schwitters alterava constantemente a montagem, adicionando novos elementos ou eliminando outros, desenvolvendo a ideia de uma arte como um processo vivo. Esta constante transformação pretendia refletir o movimento e o caos do mundo moderno. Neste processo, destruía a ideia da obra de arte única e irrepetível, base sobretudo do comércio da arte.


Merzbau nasce do conceito Merz, palavra que o próprio cunhou derivada da palavra "ComMERZbank" que apareceu acidentalmente numa das suas colagens, e que foi aplicado por Schwitters em múltiplas obras, diria mesmo, em todas, com diferentes suportes e enquadramentos.


(Revista Merz, 1924)


Como veículo de divulgação destas ideias, Schwitters criou a revista Merz que teve 24 edições, ao longo de uma década, de 1923 a 1932. Hans Arp, El Lissitzky, Theo van Doesburg, Raoul Hausmann, Tristan Tzara, Man Ray, László Moholy-Nagy, Piet Mondrian ou Kazimir Malevich foram, entre outros, colaboradores desta revista, a qual, para além dos conteúdos, foi extremamente inovadora no design gráfico.


Merz propunha uma forma de arte total que combinava várias disciplinas artísticas. Incluía elementos de pintura, escultura, tipografia, poesia, performance e arquitetura, dissolvendo as fronteiras tradicionais entre diferentes formas de arte.


Utilizava materiais encontrados, fragmentos de papel, pedaços de madeira, metal, tecido e qualquer outro material que encontrasse, considerando que era irrelevante o valor intrínseco desses materiais e que qualquer coisa podia ser transformada em arte.


(Ursonate, 1922)


Schwitters é também importante pelo trabalho que desenvolveu no campo da poesia sonora, explorando fonemas e ritmos da linguagem. A sua obra mais famosa neste domínio é a "Ursonate" (Sonata Primitiva), composta entre 1922 e 1932. Trata-se de um longo poema sonoro que utiliza sons abstratos, sílabas e palavras inventadas, criando uma experiência auditiva única que desafia as convenções tradicionais da poesia e da música.


A influência de Kurt Schwitters na tipografia é igualmente bastante significativa, desenvolvendo um novo design gráfico através do uso experimental do texto e das letras, que incorporou em várias obras visuais e também no Merzbau.


Nesta dinâmica, de expansão do campo da expressão artística, estas ideias e práticas tornaram-se particularmente influentes num momento em que se procuravam novos caminhos para a realização da arte. O derrube das disciplinas convencionais, a integração do objeto comum, do corpo do próprio artista, da fotografia e da colagem, do som, do texto, da poesia, da tipografia ou a criação do espaço imersivo são alguns notáveis contributos de Schwitters. Cuja influência na obra de vários artistas, como Richard Hamilton, Eduardo Paolozzi, Robert Rauschenberg, Joseph Beuys, Jasper Johns ou Cy Twombly, é reconhecida pelos próprios.


(Merz Barn, 1947)


Após a sua morte, o filho, Ernst, recuperou algumas obras e promoveu o trabalho do pai. Nomeadamente, preservou uma parte do último Merzbau, chamado “Merz Barn”, criado em 1947 em Inglaterra.


Apesar da enorme influência que exerceu na arte do século 20, de algumas retrospetivas realizadas no Moma em 1985, na Tate no mesmo ano e no Centre Pompidou em 2011, Schwitters é ainda bastante desconhecido das jovens gerações e do meio artístico em geral.


A cada dia 1 do mês, publicamos um texto de Leonel Moura sobre um artista das artes visuais que o autor considera ser dos mais inovadores do século 20, mas praticamente desconhecidos, não só do grande público, como do próprio meio artístico.

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