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Que balanço faz do tempo que está à frente do Teatro Maria Matos?
Quando a Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa e o Presidente da Egeac me convidaram para assumir a direção do Teatro Maria Matos há cinco anos atrás, fizeram-no com uma missão precisa: tornar o Maria Matos num teatro dedicado à criação contemporânea. Passaram cinco anos e penso que conseguimos realizar uma série de objetivos importantes. Hoje, o Teatro Maria Matos é um palco de referência para a criação nacional nas áreas do teatro, da dança e da música. Coproduzimos mais de dez espetáculos todos os anos, apoiamos vários festivais, criamos oportunidades para músicos e compositores e temos feito um trabalho importante na emancipação do teatro para crianças e jovens.
O Teatro Maria Matos tem tido um papel de relevo na divulgação de uma série de artistas pouco conhecidos junto do grande público. Um feliz exemplo é o da Joana Sá, que deu um belíssimo concerto no início de Outubro, perante um auditório quase esgotado, e há dois anos atrás era conhecida apenas num círculo muito restrito. Bons exemplos são também a mala voadora e o Mundo Perfeito, duas companhias que há quatro ou cinco anos atrás eram consideradas marginais ou “experimentais”. Hoje em dia, atraem um público cada vez maior e diversificado. O extenso programa que vamos apresentar em outubro e novembro, no âmbito do 10.º aniversário de ambas as companhias, será mais um passo na consolidação destes artistas.
Outra conquista importante é a internacionalização. Há cinco anos atrás, o Teatro Maria Matos era completamente desconhecido fora do país. Hoje, o Teatro faz parte do circuito internacional de programação, não só como apresentador de artistas estrangeiros, mas também como coprodutor internacional. De grande relevância, neste contexto, é o facto de o Teatro ser cofundador de duas redes internacionais, apoiadas pelo Programa Cultura da União Europeia, a House on Fire (da qual somos o teatro coordenador) e a Create to Connect. Ambos os programas têm a duração de 5 anos e potenciam uma variedade de colaborações com teatros e festivais de toda a Europa, entre outros o Hebbel Theater em Berlim, o Kaaitheater em Bruxelas, o Parque de la Vilette em Paris e o LIFT — London International Festival of Theatre.
Pode-se dizer que há um publico tipo do Maria Matos?
No início, apelámos claramente a um público jovem, talvez porque os jovens tenham sido mais rápidos a querer arriscar e conhecer uma programação contemporânea menos evidente; mais de metade dos nossos espectadores tinham menos de 30 anos. Hoje, as parcelas são mais equilibrados entre jovens, pessoas com mais de 30 anos e também muitos artistas e profissionais do espetáculo. De qualquer modo, a parcela do público jovem continua a ser bastante alta, comparada com a das outras instituições culturais. Para além dos grupos etários, não temos muitos dados objetivos. De momento, está a decorrer um estudo de públicos que nos fornecerá mais informações sobre o nosso público, por exemplo, a sua composição sociológica ou os seus hábitos culturais.
Obviamente, temos públicos muito diversificados para os concertos, o teatro, a dança, a programação para crianças ou os eventos ao ar livre, embora sejam frequentes as migrações de espectadores entre as várias propostas do nosso programa. Esta diversificação faz-se também notar no crescimento do público de cerca de 21.000 espectadores na temporada 2008/09 para 28.200 na última temporada.
Que outras actividades são promovidas pelo Teatro?
Num inquérito preliminar ao estudo de públicos que está em curso, os espectadores do Teatro Maria Matos escolheram três palavras-chave para definir o Teatro Maria Matos: qualidade, contemporaneidade e diversidade. Foi obviamente um belo feedback e ficámos felizes sobretudo com a terceira palavra, pois tem sido uma grande preocupação nossa tentar criar diversidade dentro da missão específica do Teatro. Acho extremamente importante evitar a rotina na programação. Oferecemos uma variedade de propostas — mesmo dentro da contemporaneidade — e tentamos refrescar formatos e inventar novas maneiras de usufruir das obras de arte que produzimos e apresentamos.
Para além dos espetáculos de formato mais tradicional, apresentamos propostas muito surpreendentes, como, por exemplo, Remote Lisboa, o percurso ficcionado pela cidade que o Rimini Protokoll realizou no ano passado; ou o espetáculo Hotel Lutécia, que se realizava nas varandas do hotel enquanto o público estava na rua a assistir. No início de dezembro, apresentamos o projeto Lecture for Every One da artista belga Sarah Vanhee: durante uma semana, entre 7 e 14 de dezembro, Sarah Vanhee e a atriz portuguesa Anabela Almeida juntar-se-ão a reuniões e assembleias em diferentes contextos — uma conferência num hotel de luxo, uma assembleia municipal, uma reunião do sindicato, o staff meeting de uma multinacional, um ensaio de um coro de igreja — para dar uma pequena palestra. Normalmente, apenas uma pessoa sabe da sua visita, para todos os outros a sua gentil intromissão é uma surpresa.
Não perdemos oportunidades para festejar. No aniversário do Teatro, fazemos todos os anos um evento extraordinário, como, no ano passado, os concertos 100 Cage, numa celebração do centenário de nascimento do compositor, ou a peça Atlas, criada por Ana Borralho e João Galante com 100 pessoas de diferentes profissões. Foi encomendada para o 42º aniversário do Teatro Maria Matos em 2011 e continua a viajar pelo mundo. No início e no fim da temporada, organizamos eventos ao ar livre para famílias e crianças com espetáculos, workshops, bailes, comida, etc. São sempre momentos muito especiais na nossa programação.
Um elemento importante mas menos evidente na programação de um teatro são os programas temáticos. Com frequência, damos atenção a temas da atualidade em programas que misturam propostas artísticas com palestras, debates ou apresentações de filmes. Muitas vezes, estes programas temáticos são realizados ao longo de vários meses. Nesta temporada, estamos a desenvolver um ciclo de programação sobre a tensão entre o indivíduo e a comunidade, entitulado There is no such thing as society, a famosa frase da Margaret Thatcher. É um projeto internacional que estamos a desenvolver no contexto da rede House on Fire.
Existe alguma ligação entre o teatro e a população local?
O Teatro Maria Matos é um teatro municipal e tem como público-alvo toda a população da Grande Lisboa. Mas isto não exclui a possibilidade de sermos ao mesmo tempo o teatro da freguesia da Alvalade. Sobretudo nas atividades ao ar livre procuramos e sentimos uma relação crescente com a população local.
Quais os principais destaques desta temporada?
O programa com a mala voadora e o Mundo Perfeito, na ocasião do 10.º aniversário de ambas as companhias, merece um grande destaque. É uma oportunidade única para conhecer as melhores obras de duas das mais importantes companhias de teatro da atualidade. E a maratona de 10 horas de espetáculos, intervenções, concertos, performances, etc. que abre as festividades, no dia 26 de Outubro, promete ser um evento extraordinário. O público poderá entrar e sair livremente entre as 16h e as 02h.
Depois, em dezembro e janeiro, apresentamos algumas obras de grande qualidade da cena internacional: De Warme Winkel, a companhia de teatro mais em voga da Holanda, os britânicos Forced Entertainment, com Tomorrow's Parties, uma das melhores peças da companhia em anos, e, a incontornável Meg Stuart, com Built to Last, uma coprodução com o Münchner Kammerspiele. No meu entender, são espetáculos a não perder.
Como vê o panorama cultural português?
Estamos a passar por um momento difícil, sem dúvida. O que me entristece mais é que temos uma série de artistas excecionais no teatro, na dança, no cinema, na literatura... que estão a fazer um trabalho de grande qualidade e com enorme potencial, ao nível nacional e internacional, mas que o país não consegue ou não quer acompanhar. Há um grande desinteresse a nível do governo e, pior ainda, muita incompetência. Alguém consegue explicar porque depois de 15 anos de existência, o concurso quadrienal para o apoio às artes performativas continua a ser caótico e sempre atrasado? Porque falham as leis do cinema, uma atrás da outra? Com que fim um excelente diretor do São Carlos é destituído e substituído por profissionais de segunda categoria? Por que motivo o nosso melhor festival de teatro, o Alkantara festival, elogiado dentro e fora do país, inclusive no relatório do júri do concurso, sofre um corte completamente injustificado, desproporcionado e injusto de 70% no subsídio?
Felizmente, existem também boas notícias, como a política cultural de cidades como Lisboa e Guimarães ou a capacidade dos agentes culturais em colaborar e criar sinergias, como demonstram o projeto extraordinário do Artista na Cidade e a rede 5 Sentidos. Provavelmente devido à inconstância das políticas culturais, o setor cultural tem desenvolvido uma grande resiliência e capacidade de crescer e florescer, apesar de tudo.
http://www.teatromariamatos.pt/
Mark Deputter é o director do Teatro Maria Matos.
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