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A sala principal do Teatro São Luiz (Sala Luis Miguel Cintra) recebe a última encenação de Diogo Freitas, recentíssimo encenador natural de Famalicão, que desde 2019 conta com cerca de 12 produções da sua autoria e co-autoria, na estrutura artística Momento – Artistas Independentes. O Fim é o espectáculo apresentado, com texto inédito de Gonçalo M. Tavares, escritor português internacionalmente reconhecido.
A cena recebe o espectador numa sala de espera de um hospital, num cenário amplo e limpo de informação visual, composto por elementos brancos de aspecto clínico. Ali se encontra uma máquina de vendas automáticas e cadeiras de espera que serão ocupadas pelas quatro personagens protagonistas do exercício cénico, mais uma cama de enfermaria que entra e sai de cena de quando em vez, servindo os propósitos da encenação.
O primeiro impacto deste aspecto cenográfico, mais a escolha do autor do texto, e juntamente com o surgimento das figuras que ocupam o palco, constituem uma certa promessa e expectativa sobre o espectáculo que, no entanto, se vão diluindo até ao final do mesmo.
Em O Fim, da obra de Gonçalo M. Tavares pouco ou nada se faz. As personagens que, de branco, habitam a cena e ocupam as cadeiras de espera (uma Grávida, Um Celebrante que se faz acompanhar de balões e um bolo, uma Mulher mais velha e uma excêntrica Enfermeira) não são as personagens da narrativa contada. Antes investem no trabalho textual de M. Tavares como evento literário a que emprestam voz, apenas contando a parábola sobre a vida cedida pelo texto escrito, tomando-o como mais um elemento de um todo, sem particular evidência ou esclarecimento do mesmo. O elenco, dirigido com uma interpretação desinspirada e algo antiquada, limita-se a recitar a narrativa do Velho e do seu cão chamado Morte, num débito que é insuficientemente pontuado com jogos de movimento e marcações cénicas que por vezes aspiram uma certa comicidade, mas sem efeito.
A intenção parece ser a de criar duas realidades paralelas – o plano das personagens do texto e o plano das personagens da cena. Mas esta separação mostra-se pouco produtiva de sentidos, demonstrando uma interpretação e encenação frágeis do texto de Gonçalo que, por sua vez, é constituído com menos capacidade dramática do que literária.
Cena e texto estão dissociados sem que isso resulte só por si como uma proposta artística relevante, pois nem a cena é interessante (salvo o seu lento caminhar para o momento apocalíptico final), nem o texto potencia a dinâmica cénica. As duas linguagens nunca se encontram, nem pela sua diferença nem pelo seu confronto. Antes se assiste a uma ausência de dramaturgia e congruência num espaço de experimentação. Investe-se na produção de imagens bonitas que se sobrepõem, cuja única redenção está no trabalho de David David, pelas suas impressionantes habilidades físicas, acrobáticas e circenses, no papel da estranha enfermeira de serviço.
Com uma interessante moldura estética, o espectáculo segue às cavalitas do autor do texto, cuja referência pouco aprofundada serve de isco à captação de público. O Fim tem a pretensão de se mostrar como um herói em potência no teatro que, no fim, se resume às suas fragilidades, tal como Aquiles e o seu calcanhar.
4 de Fevereiro 2024, Sala Luis Miguel Cintra, Teatro São Luiz
Texto: Gonçalo M. Tavares. Criação e Encenação: Diogo Freitas. Assistência de Encenação e Produção: Filipe Gouveia. Interpretação: Clara Nogueira, David David, Pedro Oliveira e Sara Maia. Direção de Movimento: Carlos Silva. Desenho e Operação de Luz: Pedro Abreu. Música, Composição sonora e Operação de Som: Cláudio Tavares. Cenografia: Rita Cruz. Assistente de montagem cénica: Carolina Trigo. Figurinos: Anne Carestiato. Assessoria de Imprensa: Rita Torcato / Wake Up Comunicação! Acompanhamento fotográfico: José Caldeira. Gestão de redes sociais e Design Gráfico: Carol F. Torres. Acompanhamento de Vídeo e Teaser: Os Fredericos. Parceiro de Comunicação: Antena 2. Gestão Financeira: Cláudia Meireles. Residência Artística: Teatro Narciso Ferreira. Apoios: Vieira de Castro, Servilusa, Decormor, BW (BelieveWork Unip. LDA) e Cache pot artes decorativas. Coprodução: Momento – Artistas Independentes, Teatro Diogo Bernardes, Casa das Artes de Famalicão, Cineteatro Louletano, Teatro José Lúcio da Silva e São Luiz Teatro Municipal.
(Este texto está também publicado em www.ocalcanhardeaquiles.wordpress.com)
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