TUDO SOBRE A COMUNIDADE DAS ARTES

Ajuda-nos a manter a arte e a cultura acessíveis a todos - Apoia o Coffeepaste e faz parte desta transformação.

Ajuda-nos a manter a arte e a cultura acessíveis a todos - Apoia o Coffeepaste e faz parte desta transformação.

Selecione a area onde pretende pesquisar

Conteúdos

Classificados

Recursos

Workshops

Crítica

Artigos
Rés-do-chão

Rés-do-chão #1: cabeça feita um AirBnB

Por

 

Mariana Dixe
10 de Janeiro de 2025

Partilhar

Rés-do-chão #1: cabeça feita um AirBnB

A quarta parede é aquela, invisível, que separa palco e plateia, intérpretes e espectadores, realidade e ficção. Quando não é derrubada, a sua existência permite aos atores viverem a sua solidão pública, atuando como se estivessem sozinhos. Para eles, é como se aquelas pessoas sentadas em cadeiras de veludo, a olhar na sua direção, fossem a estampa de um qualquer papel de parede bizarro.


Agora, para quem vê, a parede é uma espécie de cortina, mas muito transparente e o palco é aquela casa no rés-do-chão, com a janela ao nível da rua, para a qual olhamos, sem pudor. A suspensão da descrença faz com que as pessoas que, num dia normal, não acreditam nem em assombrações, nem em adivinhos, ponham o ceticismo de lado para aceitar que Tirésias previu o futuro e o fantasma do Rei Hamlet vagueia pelo Palácio de Elsinore.


Olá, eu sou a Mariana e vivo fascinada por perceber o que raio é que me acontece enquanto espectadora de teatro (e também como é que as pessoas do rés-do-chão decoram as suas casas, confesso). Sim, acabei de quebrar a quarta parede desta leitura, para te explicar a minha dúvida: quando saio de casa, compro bilhete para um espetáculo e me sento na plateia, eu escolho acreditar ou finjo que acredito? Estou a fazer um acordo com aquele elenco ou estou a mentir-lhe - e a mim própria? E será que os espectadores à minha volta estão a fazer o mesmo ou são só crentes?


No meu caso, para um espetáculo me convencer, tem de ser especialmente meta teatral. Adoro tudo o que é meta desde antes de ter uma associação cultural chamada Maratona. E digo que me convence porque me conquista na dúvida. Se, num espetáculo, não consigo distinguir onde acaba a ficção e começa a realidade, ou vice-versa, então, ironicamente, procuro cada vez menos essa linha (ou parede) que as separa; ou, ainda procurando muito, é quando mais desfruto do jogo.


Assim, neste espaço mensal, na segunda sexta-feira de cada mês, em antecipação da estreia em setembro do espetáculo “Obrigada por terem vindo” (que aborda esta temática e que, convenientemente, escrevi e enceno), tentarei provar que não sou a única e que a fronteira entre realidade e ficção é navegável.


Ou devo dizer habitável? Pelo menos, durante curtos períodos de tempo e em cenários muito particulares. Por exemplo, a casa do velho Carl, do filme Up-Altamente, conhecida pelo seu voo experimental com recurso a balões, foi transformada num AirBnB no Novo México. Alberga quatro hóspedes, o anfitrião é o próprio Carl Fredericksen, personagem aparentemente transformado em super host, e sim, a casa voa, graças a 8000 balões… e uma grua!


O Quartel-General da Riley, de Divertida-mente, também ficou recentemente visitável em Las Vegas. É estranho se pensarmos que, dramaturgicamente, estamos na cabeça de alguém e algumas reviews dão conta de problemas técnicos que impediram a estadia durante a noite, mas ficamos sem saber se foi uma esfera da memória partida ou a ansiedade a fazer das suas.


A Mansão X, de X-Men '97, em Nova Iorque (EUA) e a casa da Mônica, da Turma da Mônica, em São Pedro (Brasil) são outros exemplos reais. Quer dizer, pelo menos tão reais quanto as casas de Bella (Crepúsculo) no Oregon e de Villanelle (Killing Eve), em Barcelona, também visitáveis.


São circunstâncias diferentes, mas igualmente fascinantes. De um lado, temos propriedades pré-existentes: uma moradia T5 em Portland, construída em 1930, que depois de usada como cenário de um filme se torna um AirBnB com experiência de check-in excecional; ou um apartamento desenhado originalmente para acomodar a família Ramos, na Barcelona de 1906, que se gaba de ter sido filmado por Almodóvar, Allan Parker e Wim Wenders. Do outro lado, lugares que até há bem pouco tempo não existiam concretamente, que foram criados para albergar personagens de desenhos animados no papel e no ecrã e que se tornam propriedades palpáveis após o seu sucesso, depois de já serem conhecidas do público. Estes devem ser os únicos AirBnB’s em que o hóspede já conhece os cantos à casa, ainda antes de lá entrar.


De novo: de um lado, a equipa de produção de um filme ou série a visitar casas para possíveis localizações de filmagens e a escolher as construções que melhor servem as ideias; do outro, várias pessoas a pôr tijolo sobre tijolo e a fazer cimento para construir fisicamente um lugar que antes era só uma ideia e que vivia na cabeça de alguém (no caso do Quartel-General de Divertida-mente, depois de construído continua a ser a cabeça de alguém). De um lado, espaços reais; do outro, espaços da ficção.


E o que é que todos eles têm em comum? São todos favoritos dos hóspedes e estão sempre esgotados. Se há mais pessoas, como eu, interessadas no sítio onde algo deixa de ser realidade e passa a ser ficção, ou vice-versa, e se essa linha está tantas vezes entre o palco e a plateia, deite-se abaixo a quarta parede e construa-se lá um AirBnB. 

Apoiar

Se quiseres apoiar o Coffeepaste, para continuarmos a fazer mais e melhor por ti e pela comunidade, vê como aqui.

Como apoiar

Se tiveres alguma questão, escreve-nos para info@coffeepaste.com

Segue-nos nas redes

Rés-do-chão #1: cabeça feita um AirBnB

Publicidade

Quer Publicitar no nosso site? preencha o formulário.

Preencher

Inscreve-te na mailing list e recebe todas as novidades do Coffeepaste!

Ao subscreveres, passarás a receber os anúncios mais recentes, informações sobre novos conteúdos editoriais, as nossas iniciativas e outras informações por email. O teu endereço nunca será partilhado.

Apoios

03 Lisboa

Copyright © 2022 CoffeePaste. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por

Rés-do-chão #1: cabeça feita um AirBnB
coffeepaste.com desenvolvido por Bondhabits. Agência de marketing digital e desenvolvimento de websites e desenvolvimento de apps mobile