Por Keli FreitasTá difícil falar de coisa bonita, tá difícil falar de coisa triste, tá difícil falar de coisa boa, tá difícil falar de coisa ruim, tá difícil falar.
Tô precisando ficar calada um pouquinho.
Às vezes é o que dá.
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Lembrei de uma vendedora de cerveja que vi há séculos numa rua de Salvador, na Bahia. Na barraca dela tinha escrito, enorme, assim:
VAMO BEBER QUE AMAR TÁ DIFÍCIL
A barraca era um sucesso. Vivia lotada de gente.
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No Rio, tinha um senhor que andava de bar em bar da Zona Sul, vestido de smoking, vendendo rosas. Era o Chico das Rosas.
Uma vez saiu no jornal uma reportagem sobre as dificuldade financeiras do Chico das Rosas. Na reportagem, o Chico afirmou exatamente o seguinte:
“O amor já não vende tantas rosas.”
Fiquei com essa reportagem na parede do meu quarto durante anos.
Sempre quis fazer alguma coisa com ela.
Nunca fiz.
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São só duas coisas um pouco bonitas um pouco tristes um pouco boas um pouco ruins que eu me lembrei.
Por hoje até que não está mal.
Tô precisando ficar mais para calada um pouquinho.
Keli Freitas (1983, Brasil) é criadora, dramaturga e actriz.
Graduada em Letras pela PUC-Rio e mestranda em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa.
Esta iniciativa resulta de uma parceria Coffeepaste / Prado. A Prado é uma estrutura financiada pela DGArtes / Governo de Portugal para o biénio 2020/2021.