Desenhando o futuro: Mónica Alvarez Careaga e a evolução da Drawing Room Lisboa

Com sete edições de sucesso, a Drawing Room Lisboa consolidou-se como um dos eventos de referência no panorama artístico contemporâneo em Portugal, dedicando-se à promoção do desenho contemporâneo. A diretora da feira, Mónica Alvarez Careaga, reflete sobre a evolução deste projeto e a sua importância crescente para artistas e galeristas, ao mesmo tempo que destaca as novidades desta edição. Em conversa com o Coffeepaste, Mónica aborda o processo curatorial que levou à seleção de 70 artistas, a criação de novas secções como "Escutar o Desenho" e a colaboração especial de Rodrigo Leão. A feira acontece entre 23 e 27 de outubro de 2024.

Que balanço fazes dos anos que a Drawing Room Lisboa já leva de atividade?

O balanço é imensurável. Só a ideia da continuidade de um projeto que se mantém ao longo de 7 anos com a capacidade de melhorar e de ir crescendo, confirma a ideia de que a feira é útil ao sistema artístico português, é útil aos artistas e aos galeristas, para divulgar o seu trabalho e chegar a novos públicos.

Como se chega aos 70 artistas que a feira apresenta? É um processo difícil?

A feira apresenta, entre o Programa Geral e Quarto Visitas, um total de 26 galerias, que mostram uma grande diversidade, algumas são solo show, outras apresentam pequenas exposições coletivas. Os visitantes da feira poderão ver o trabalho de 70 artistas, um número bastante representativo da cena artística portuguesa e internacional. A feira apresenta nomes muito importantes da cena artística portuguesa, como a Fernanda Fragateiro ou Pedro Cabrita Reis e este ano ainda incorporámos artistas nunca antes expostos na Drawing Room Lisboa, como Gabriel Abrantes, José Pedro Croft e Cristina Ataíde.

Que podemos esperar da secção “Quarto de Visitas”?

Este é um novo programa do Drawing Room Lisboa, muito especial, criado para responder à sua principal missão: mostrar o que há de melhor no desenho contemporâneo através das suas práticas idiossincráticas, híbridas, dos artistas atuais; tanto portugueses como estrangeiros.
Prestamos homenagem à hospitalidade portuguesa, reunindo três artistas proeminentes que marcaram a sua posição, a partir da qual desenvolvem o seu trabalho em desenho: a abstração envolvente de Carsten Fock, representado por Zeller Van Almsick (Viena), a figuração dramática de Susanna Inglada, representada pela Galerie Maurits van de Laar (Haia) e o grafismo tão maníaco como fértil de Olivier Gruber, representado pela Invisible Galerie (Marselha).

Fala-nos da secção "Escutar o Desenho"

É uma nova secção imaterial da feira, que se prende com o cruzamento de disciplinas artísticas, unindo a curadoria do som às artes visuais. Esta iniciativa pretende identificar um artista musical que possa oferecer uma proposta de “banda sonora” para as obras expostas, que fica disponível para os visitantes e que permite novas leituras e formas de apreciar as obras patentes na feira. Elegemos Rodrigo Leão, que desenha regularmente e já usou vários desenhos da sua autoria para ilustrar novos discos, para esta nova proposta. Além deste questionamento de “a que soa o desenho” e oferecer outras camadas aos visitantes, permite-nos também contar com uma breve atuação ao vivo na inauguração da Drawing Room Lisboa.

O facto de Rodrigo Leão desenhar como parte do seu processo criativo é importante?

Sim, muito. A sua personalidade criativa é tão atrativa e multifacetada, que estamos muito agradecidos pela sua generosa colaboração com a Drawing Room para lançar esta secção e dar-lhe continuidade em edições posteriores.

O que podemos esperar do showcase de Rodrigo Leão?

O Rodrigo Leão é um músico de incontestável reconhecimento e mérito, já com uma longa carreira. Na abertura da feira vai estar acompanhado pelos seus filhos, António, Rosa e Sofia, também eles músicos, e juntos partilharão com o público um diálogo instrumental de 2 pianos acústicos, onde se misturam sons, conversas e gerações.

Fala-nos dos prémios que serão atribuídos nesta edição da feira

Desde a 1ª edição, contamos com o apoio inestimável da Fundação Millennium bcp, que premeia durante a Drawing Room um talento jovem, um artista destacado e a um projeto curatorial, atribuído a uma galeria. Além disso, temos o Prémio de Desenho FLAD, cujos trabalhos dos 10 finalistas estão expostos durante a feira na Galeria Pintor Fernando de Azevedo da SNBA, um prémio residência artística, que permite a um jovem artista realizar uma residência na incrível fábrica de lápis Viarco, o Prémio da Imprensa Nacional Casa da Moeda e o Prémio de Aquisição Paulo & Damião.

O local onde a feira decorre, a Sociedade Nacional de Belas Artes, é relevante?

Claro que sim. Quando escolhemos este espaço para uma feira de desenho, de alguma maneira damos continuidade a uma tradição, a um ensino de desenho e a SNBA vem desenvolvendo desde os princípios do século passado. Além disso, agradecemos ter connosco uma equipa super profissional, experiente e empenhada com o nosso projeto. A Sociedade Nacional de Belas Artes tem um edifício lindíssimo, situado numa zona nobre e central de Lisboa, que facilita o acesso a todos os nossos visitantes.

Sentes que o desenho contemporâneo tem o destaque que merece no panorama cultural?

Sim, creio que em Portugal as exposições dedicadas a coleções de desenho contemporâneo ou a artistas muito vocacionados em desenho são muito frequentes. Na minha opinião, as instituições portuguesas mimam a prática do desenho, expondo-o, coleccionando-o e ensinando-o.