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Fernando Vasquez e o FEST

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COFFEEPASTE
June 12, 2024

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Fernando Vasquez e o FEST

O FEST - New Directors New Films Festival celebra este ano 20 edições. Conversámos a esse e outros propósitos com Fernando Vasquez, diretor de programação do evento, que acontece em Espinho de 24 de junho a 1 de julho de 2024.


A missão do FEST tem-se mantido desde a primeira edição, ou tem vindo a mudar ao longo dos anos?

Nos primeiros anos, como é natural, houve um período de descoberta de que caminhos é que fariam sentido ao FEST desbravar, qual poderia ser o seu espaço dentro do panorama do cinema, e como se tornar relevante tanto a nível nacional como internacional. Assim que o evento cimentou algumas dinâmicas básicas, rapidamente se tornou claro que, o seu caminho era encurtar o espaço entre a audiência, a indústria e quem quer vir a fazer cinema. Assim que o evento encarrilhar nesse objetivo o caminho foi sempre a direito. 

 

Que balanço fazes, ao chegarem à edição 20?

Surpreendentemente positivo. A forma como o FEST conseguiu ganhar o seu espaço próprio na cena internacional foi muito rápida. Viemos preencher algumas lacunas que existiam no circuito, acima de tudo no que toca às nossas atividades de indústria, à ligação com as escolas de cinema internacionais, e ao próprio espírito do evento, que de certa forma é contracorrente ao circuito de festivais, muito despretensioso e aberto a qualquer um. Ao mesmo tempo, ficamos surpreendidos como o grande obstáculo inicial foi ganhar alguma tração em Portugal. Demorou mais do que o que se esperava, as dinâmicas em Portugal nem sempre aceitam facilmente o que se faz por cá logo à partida. No fundo, o balanço é muito positivo e dá-nos muito alento para o futuro.  

 

Fala-nos desse conceito de vários festivais num?

O mundo está em constante mudança, e o universo do cinema não é exceção. Os hábitos das audiências de cinema estão a mudar, a competição é feroz e variada, e existe uma disputa acesa pela atenção do espectador. O mundo dos festivais de cinema está numa espécie de encruzilhada que exige muita capacidade de reação. Por um lado, lutamos por manter perspectivas clássicas de cinema, e nós não somos exceção. Mas, essa necessidade não pode estar em constante confronto com a mudança. Na nossa perspetiva é vital estar sempre muito atento às mutações dos tempos e desenvolver. Por isso, o caminho do FEST tem sido o de responder ao máximo de necessidades possíveis. Os festivais de futuro não se podem restringir a fazer o que sempre fizeram. Têm de ser plataformas o mais completas possíveis de forma a seduzir uma massa de espectadores cada vez mais exigentes e saturados de informação e alternativas. O FEST hoje é um pouco de tudo, e sinceramente, é isso que acreditamos que o tornará relevante a longo prazo.  

 

Fala-nos do lema desta edição, “Regresso ao Futuro”?

Nesta 20ª edição é inevitável refletir um pouco sobre estas duas décadas de existência. Perceber o que foi feito, o que conquistamos! Porque somos um festival com um olhar sempre focado no futuro, não nos podemos dar ao luxo de focar todas as atenções no passado. Para 2024, escolhemos encontrar um ponto intermédio entre passado e futuro. Por exemplo, na secção “Be Kind Rewind”, vamos exibir várias obras que passaram no nosso “Pitching Forum”, a nossa plataforma de apoio a projetos para cinema e televisão. Na mesma secção vamos ter, também, muitos trabalhos novos de autores que passaram pelo nosso radar nos últimos 20 anos. Enfim, no fundo, este ano, excepcionalmente, vamos apresentar uma mistura de dois tempos.

 

Que inquietações estão na cabeça de um programador, ao planear um evento como o FEST?

Da perspetiva da programação estamos sempre consumidos por uma série de condicionantes e objetivos. A nível da programação de cinema queremos que o programa reflita não só as novas tendências do cinema, mas que também conte uma narrativa no seu todo. Que partilha as perspetivas desta nova geração de cineastas em relação ao mundo contemporâneo e ao que eles acreditam ser o futuro. A nível da programação de indústria a exigência é que sejamos capazes de antecipar as mudanças e as necessidades. Por exemplo, este ano, com a presença do David Thackeray, vamos dar um grande foco a esta questão da Coordenação de Intimidade. Já não vivemos na era do vale tudo e a falta de orçamento não pode ser desculpa para cometer excessos e descuidos. É uma questão essencial nos próximos tempos. Por outro lado, a presença do Sami Arpa vai revelar muitos detalhes sobre a utilização da Inteligência Artificial (IA) no Cinema. Eu confesso que este é um tema que me assusta particularmente, até porque descortino, com muita mais facilidade, perigos do que as vantagens, e os perigos são vertiginosos. Independentemente do que eu acho, A IA já é uma realidade, não vai deixar de estar inventada. Acreditamos que é essencial compreendê-la, e para o conseguir é preciso dar uma plataforma a quem a melhor conhece. Seja para a confrontar, ou para a utilizar, este é o momento de a perceber a sério.    

 

Fala-nos das sessões de abertura e de encerramento?

Este ano, o FEST abre com um filme que estará também em competição para o Lince de Ouro. É o mais recente trabalho do sueco Gustav Moller, o realizador de “O Culpado”, que foi um enorme sucesso há uns anos. Regressa agora com “Sons”, um filme que gerou muito debate na última edição do Festival de Berlim. Trata-se de um thriller sobre vingança, no feminino. Aliás, no que toca ao programa de longas-metragens, os temas femininos dominam quase por completo. O filme de encerramento é outro dos grandes exemplos. Este “Memories of a Burning Body” da Costa-Riquenha Antonella Sudassassi Furniss é um “docu-drama” que nos fala sobre a repressão sexual da mulher numa sociedade latina, não muito diferente da nossa. Foi o grande vencedor do prémio do público da secção Panorama do Festival de Berlim, e é uma obra que promete surpreender a audiência do FEST.

 

O contingente nacional estará bem representado?

Como sempre, o Grande Prémio Nacional assume grande destaque. Este ano, teremos 25 obras em competição, em quatro programas de curtas-metragens que incluem vários regressos e novidades. Destaco, acima de tudo, os regressos de Guilherme Daniel e Bruno Carnide, com novos trabalhos que seguem a sua linha já muito bem vincada e cada vez mais madura. Também os regressos do Ruben Sevivas, agora completamente focada na ficção; do Gonçalo Loureiro, desta feita com uma obra híbrida sobre um grupo de jovens músicos que acreditamos que ainda vai dar muito que falar; ou, até mesmo, a Carolina Aguiar, que ainda no ano passado esteve no FEST com um drama discreto, e que regressa agora com cinema de género. Entre as novidades é inevitável destacar “Seu nome era Gisberta” de Sérgio Galvão Roxo, uma animação sobre a vida e morte de Giberta, a mulher transgénera assassinada por um grupo de crianças no Porto. O filme foi lançado no SXSW e, finalmente, chegou a Portugal. Destaco, por último, uma tendência do nosso cinema que já há algum tempo que tem vindo a surgir: o crescimento da influência da comunidade brasileira no nosso cinema. Temos duas obras de autores brasileiros radicados em Portugal, como são os casos de “Golden Shower” de Stella Carneiro e “Ensaio da Loucura” de Vitor Huggoli, dois bons exemplos de como o cinema português não tem de viver acorrentado à nossa perspetiva que, por vezes, é demasiado insular. Só temos a ganhar em absorver estas formas diferentes de pensar e filmar. Fazer uma competição de cinema português do futuro sem refletir e salientar este fenómeno seria um absurdo.

 

O que está reservado na secção dedicada à indústria?

Os destaques têm de ir para os nossos convidados, obviamente. E, nesse sentido, muito do destaque tem de ir para Nadine Labaki, a autora libanesa por detrás do magnífico “Cafarnaum” ou de “Caramel”. É uma das grandes vozes do momento, e há muito que lutamos para a trazer a Espinho. Destaque, também, para Kenneth Lonergan, realizador de “Manchester by the Sea”, um dos bastiões do cinema independente americano que sobrevivem ao desnorte avassalador que caracteriza a nova Hollywood. Destaco, ainda, o regresso de Melissa Leo, a atriz que venceu o Óscar pelo seu papel em “The Fighter - Último Round”. É alguém que conhecemos muito bem e que sabemos que tem uma visão muito singular do cinema e que gosta de a partilhar. A presença do Neo-Zelandês Andrew McAlpine será outro dos pontos altos. É um dos maiores nomes na área do Design de Produção e Direcção Artística e é um dos principais responsáveis pela inesquecível imagem de “O Piano” da Jane Campion, por isso será uma masterclass fantástica, seguramente. Destaco, por último, o regresso de um dos duos mais lendários na área do som, Mark Ulano e Petruska Maerswa. Já fizeram de tudo. Do “Pet Semetary” a “Titanic”, pelo qual ganharam o Óscar; a todos os filmes do Quentin Tarantino desde o “Jackie Brown”, ao “O Mestre” de Paul Thomas Anderson. E, mais recentemente, o “Assassino da Lua das Flores” de Martin Scorsese. Enfim, têm uma experiência única na área, e a sessão deles promete.

 

O que mais te ocorre destacar do muito que se vai passar?

Os cerca de 250 filmes em exibição ao longo da semana do FEST são inevitavelmente o grande foco. Nas longas-metragens destaco “Melk” de Stefanie Kolk, um dos filmes mais originais que vi nos últimos tempos, e que nos conta a história de uma mulher que perde o filho pouco tempo antes de dar à luz, e que tenta doar o seu leite materno, uma tarefa bem mais complicada do que deveria ser. A vitalidade surpreendente do cinema alternativo indiano é de olhar com muita atenção, em “Adamant Girl” de Vinothraj PS, um regresso após a estreia da sua longa-metragem anterior “Pebbles” no FEST 2021. Nos documentários, o “Blix not Bombs” da sueca Greta Strockglassa é essencial, já que apresenta Hanx Blix, o diplomata das Nações Unidas que liderou as inspeções em buscas das armas de destruição massiva de Saddam Hussein (aquelas que ele bem nos disse que não existiam) a uma nova geração, e num momento em que o mundo bem precisa de se recordar da importância da diplomacia. Destaco, ainda, o nosso “Pitching Forum” que regressa com 25 novos projetos; a presença da série da RTP “Astro-Mano”, a primeira comédia Sci-Fi feita em Portugal; e o “Music Walk With Me”, que voltará a animar as noites à beira mar com muitos concertos e Dj sets.

 

O aparecimento das plataformas de streaming é concorrência?

Até certo ponto sim, mas não nos assusta de todo, diria até que nós é que somos a concorrência das plataformas. Sabemos que o que passará no FEST entre 24 de Junho e 1 de Julho não está disponível em nenhuma plataforma. Muito menos o contacto direto com os autores, para isso terão de ir a Espinho. A experiência da tela gigante, é concorrência desleal para com as plataformas, só mesmo em sala. E sentimos que existe uma saturação dos catálogos intermináveis e dos algoritmos estéreis que sugerem sempre os mesmos 15-20 filmes com o objetivo de prender a audiência e não expandir os seus horizontes. Oferecemos uma experiência muito diferente das plataformas, e há espaço para as duas.

 

Como olhas para Espinho no panorama cultural nacional?

É curioso como uma cidade da escala de Espinho tem dois dos maiores festivais nacionais: nós e o Cinanima. E, tem uma das melhores programações de música do país, na Academia de Música de Espinho. No fundo, para uma cidade relativamente pequena, Espinho ocupa um espaço especial. É uma cidade pronta para acolher o país e o mundo e que tem muito para oferecer. 

 

O cinema pode salvar?

Pode e deve. O cinema sempre foi um instrumento de mudança de mentalidades e perspetivas; um escape saudável e um confronto com a realidade; um reflexo da luz que somos. Nos dias que correm, onde andamos tão sedentos de ideias e criatividade, o cinema pode ser uma das soluções. Nunca deixarei de acreditar no poder redentor do cinema.

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