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© Antonin AM
Filipe Moreira é coreógrafo, bailarino, ator e músico. Vai trazer a Lisboa o seu espectáculo “ANTLIA”, integrado no ciclo “Try Better, Fail Better”. Falou-nos da peça, do processo criativo, mas também do panorama cultural da cidade do Porto, e dos apoios às Artes. “ANTLIA” estará em cena de 20 a 22 de abril no Teatro da Garagem.
O que é o ciclo “Try Better, Fail Better”?
O ciclo TRY BETTER, FAIL BETTER é um laboratório para novos criadores, que encontram no espaço do Teatro Taborda uma casa para apresentar os seus trabalhos. O mote é justamente o da criação por tentativa e erro, um encontro entre sensibilidades e procedimentos artísticos que estão em pleno processo de formação e afirmação. Para o Teatro da Garagem, este ciclo é também uma oportunidade de conhecimento mútuo e o assumir da sua missão cívica de serviço público.
Fala-nos um pouco sobre “ANTLIA”.
“ANTLIA” (constelação localizada numa parte bastante deserta do céu astral) é a história do “astronauta português” e da sua viagem pelo Espaço, em busca de novas paisagens e de novas formas de vida inteligente. “ANTLIA” propõe um recomeço e a tentativa de criação de um novo mundo, com novas possibilidades e novos pensamentos, através de uma narrativa contada ao vivo, a partir da palavra, do movimento, da música, de uma marioneta e da manipulação de objetos.
Que novos mundos e pensamentos nos propõe o espetáculo?
Este espetáculo propõe o surgimento de um novo planeta surrealista e utópico, como solução à extinção apocalíptica da Terra. Cabe ao “astronauta português” construir um novo mundo, desta vez, totalmente diferente da Terra. A ambição e a metáfora deste espetáculo, passam pela possibilidade de imaginar a tentativa de criação de um novo mundo com novos pensamentos, que possam permitir mais liberdade na criação de um novo percurso de vida, mais justo e ponderado.
Como foi o processo criativo?
Esta criação nasce a partir do desejo e da necessidade de mudança. De repensar o meu percurso e de inovar as minhas ideias. A esta necessidade, coincidiu o aparecimento da ficção científica na minha vida, que de forma inesperada e frequente, surgiu através do cinema documental e mais tarde com a literatura. Assim a ideia surgiu, foi posta à prova e a criação nasceu.
Como é para ti apresentares-te a solo?
Das várias experiências que tive enquanto criador, a solo é definitivamente onde me sinto mais livre. A forma como me relaciono com o tempo e o espaço de trabalho são totalmente diferentes do que estar acompanhado. Embora aprecie ser dirigido, trabalhar em grupo e em colaboração, quando se trata de desenvolver as minhas ideias, fui percebendo com o tempo que sozinho a minha energia é mais bem gerida e as minhas intenções tornam-se mais claras. A melhor forma de evoluir e aproveitar os meus processos criativos, é colocando-me totalmente à prova, ao meu ritmo.
No entanto, tenho consciência de que é um risco. E por essa razão, gosto sempre de contar com o apoio de olhares exteriores e, se possível, uma câmara de filmar.
Como vês o panorama cultural do Porto hoje em dia?
Vejo um enorme potencial no panorama cultural do Porto. Há artistas e projetos bastante interessantes e inovadores, mas porém, por vezes remetidos ao esquecimento. Creio que existe falta de investimento, falta de espaços de trabalho e de condições que nos permitam ter tempo de amadurecer as ideias e os projetos, assim como a possibilidade de criar pontes e colaborações com outros criadores ou estruturas de outras cidades.
E como vês o papel dos apoios públicos à criação artística?
Insuficiente, instável e imprevisível. Existe claramente a falta de um pensamento inovador e de um plano que não só estabeleça estratégias de apoio viáveis, mas também que estude, compreenda e aproveite os objetivos das companhias/organizações, tendo em conta os seus percursos, contextos, territórios e públicos. Caso contrário, caminharemos cada vez mais no sentido da insatisfação e da perda de identidade.