João Tovar é fundador e director da World Academy, uma escola de formação virada para as indústrias criativas e da comunicação. Falámos com ele sobre o seu percurso, e sobre o mercado de trabalho, educação, e cultura nos dias de hoje.
Fala-nos um pouco do teu percurso no universo da educação.Já ando há mais de 20 anos nesta área, e mais em concreto na formação profissional ligada à comunicação, media e criatividade. Lembro-me do 1º dia em que comecei a dar aulas a um grupo de adolescentes. Assim que comecei a falar senti imediatamente que adorava e que era algo de especial para mim. Depois fui-me envolvendo cada vez mais, inicialmente na ETIC, depois fundando a Restart e nesta fase, depois de já não me rever no projecto anterior, na fundação da World Academy. Gosto muito de estar sempre a aprender, nomeadamente com os formadores que são todos profissionais de várias áreas, e de estar rodeado de gente nova e com energia. Dá muito trabalho mas é ainda mais compensador.
O que é que a World Academy está a tentar trazer de novo ao mercado?Em primeiro lugar, existe uma cada vez maior procura de jovens licenciados que sentem que tiveram uma formação demasiado dispersa e teórica (o que não é necessariamente negativo numa primeira fase) e procuram uma formação mais prática e virada para o mercado. Depois, tem também vindo a crescer muito a procura por pessoas mais velhas que não estão satisfeitas com o percurso ou área profissional que têm desenvolvido, e ainda, profissionais que querem ampliar ou especializar conhecimentos e competências. Mas a WA não apenas mais uma escola , pois aposta em estágios curriculares para todos os alunos que necessitem e em quase todos os cursos, tem a energia e juventude duma escola ainda pequena em que se cruzam todos com a equipa num ambiente informal, tem uma localização geográfica diferenciada no concelho de Oeiras (embora às portas de Lisboa) e pertence à World Channels, que opera e produz também um canal de televisão mesmo ao nosso lado, com equipamentos e profissionais que dificilmente uma escola sozinha poderia ter.
Como têm corrido os primeiros tempos da academia?Foi uma loucura muito boa. Em seis meses foi concebida e criada uma escola num espaço que não existia e num sítio que ninguém conhecia. As inscrições começaram ainda sem escola levantada, o que é extraordinário e aconteceu e, ainda com acabamentos de obra, começámos as aulas (e só tenho a agradecer a alunos e formadores a paciência e voto de confiança). Depois foi uma maratona de concertos, filmagens e outros eventos curriculares que culminaram num pequeno festival WA. Íamos morrendo (felizes) no primeiro ano.
Qual o valor da formação no nosso percurso de vida?A aprendizagem informal deve acontecer sempre ao longo da nossa vida, nem que seja pelo prazer de saber mais. A formação, se tiver qualidade e for relevante para o aluno, pode melhorar algumas capacidades mas também pode mudar uma vida profissional por inteiro. Sobretudo se a pessoa for vocacionada e apaixonada pelo que está a aprender.
Como está o mercado de trabalho nas áreas criativas?Existem áreas em que a evolução de mercado não tem sido tão grande recentemente como o cinema, o teatro, a televisão generalista ou a publicidade mais tradicional por exemplo. Mas também posso destacar a recente aposta da RTP em séries de ficção nacional ou a dinâmica do Teatro D. Maria. Mas tudo o que são eventos de ativação de marca, internacionais, festivais de música ou tudo o que tenha que ver com conteúdos e comunicação digital, está ao rubro. Continua a haver, em muitos casos, bastante desorganização e pouco espírito de partilha e trabalho em equipa ou parceria, pouca aposta das empresas e organizações em formação e algum abuso de “estagiários”, precariedade e baixas remunerações. Dito isto, cada vez existem mais bons profissionais e empresas que percebem que o caminho não é, nem nunca devia ter sido, por aí.
Qual o estado da cultura em Portugal em 2016?Esta pergunta dava um livrinho, no qual eu daria apenas uma pequena contribuição. Apesar das dificuldades inerentes sempre à produção e consumo de cultura, e mais recentemente com a crise económica, sente-se que a cultura está muito viva e é diversa. Tendo que haver um papel do estado e autarquias, num espírito de serviço público e portanto de apoio a importantes expressões culturais, a sociedade, desde a iniciativa de indivíduos, grupos e associações até a marcas e empresas, tem-se mostrado dinâmica. Mas num país em que o futebol, a telenovela e os assuntos cor de rosa ainda são tão consumidos por tantos portugueses, há muito, muito por fazer, de preferência com pouco snobismo e algum humor. A começar nas escolas.