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Luís Mestre regressa aos palcos com Se um momento os teus olhos me pudessem ver, um espetáculo que revisita Fedra, de Racine, e que se estreia a 27 de março, Dia Mundial do Teatro. Conhecido pelo seu trabalho de experimentação dramatúrgica e de encenação, Mestre propõe nesta criação um olhar intenso sobre o amor proibido e a exposição da intimidade. A peça desafia convenções, apostando na proximidade entre atores e público e incorporando até a possibilidade do uso de telemóveis.
Nesta entrevista, o encenador e dramaturgo partilha o processo de adaptação do clássico, a construção das personagens e a sua visão sobre o teatro como espaço de questionamento e interação com a contemporaneidade.
Se um momento os teus olhos me pudessem ver baseia-se em Fedra, de Racine. O que te atraiu nessa tragédia e como foi o processo de adaptação?
O amor tabu, a proibição e a pressão social; o olhar do Outro. As estruturas, a forma, dos meus textos são todas diferentes. Acredito, como dramaturgo, que cada história que queremos contar deve ter um veículo diferente, que sirva essa mesma história. Logo, todos os processos de escrita acabam por ser diferentes. Tive a oportunidade de realizar três residências em momentos distintos (CRL - Central Elétrica, Centro de Criação de Candoso - A Oficina e Estúdio de Criação Artística - Teatro Municipal Baltazar Dias), uma delas com a Luísa Fidalgo, que interpreta Fedra, e que me permitiram ler muito, pesquisar, e encontrar essa forma de que falo e o início de algumas cenas. Depois, através do fluxo de consciência, e já durante o tempo de ensaios, terminei algumas dessas cenas. O final da peça foi encontrado já muito tarde, depois de concretizarmos grande parte do espetáculo no espaço de ensaio.
A peça aborda o conceito de um “amor tabu” e a exposição íntima dos sentimentos. Como traduziste essa tensão para o palco?
A intensidade é enorme. Abismal. Tal como a tensão. Penso que é algo que após a pandemia se perdeu no nosso teatro: in-ten-si-da-de. Parece-me que ainda estamos com um torpor desse tempo nos nossos corpos e tento combater isso com esta criação. E por isso, as intérpretes ultrapassam muitas vezes os limites das convenções teatrais.
O espetáculo tem um caráter intimista, com uma relação estreita entre público e personagens. Como pensaste essa proximidade na encenação?
A circulação no espaço é livre e poderá literalmente atravessar a acção o que transforma a experiência do público, o espectador torna-se activo e existe uma comunicação constante, forte, com a acção.
Como é que o olhar – tanto das personagens entre si como do público – influencia a experiência do espetáculo?
O título é uma frase de Fedra de Racine. Em algumas apresentações existirá a possibilidade do uso de telemóvel durante o espectáculo para fotografar, filmar e colocar nas redes sociais. A questão, e a escolha, será se o público verá o espetáculo olhos nos olhos ou através desse filtro tecnológico.
© Patrícia do Vale
A tua trajetória mostra um diálogo constante com grandes nomes da dramaturgia. Como é que esse percurso influenciou a escrita e a encenação desta peça?
Tento sempre mudar tudo. As minhas peças, como referi, são todas muito diferentes. O processo de ensaio muda e, consequentemente, os próprios espetáculos. Isso talvez aconteça porque estabeleço, constantemente, pontes com esses nomes. E é através dos clássicos que rejuvenesço o meu olhar, o que poderá parecer contraditório.
O Teatro Nova Europa inclui dispositivos de mediação de públicos, como os Postais de Apropriação e os Cadernos de Mediação. Como é que estes recursos contribuem para o envolvimento do público?
Os nossos dispositivos de mediação incidem sobre as temáticas, a estética, o processo de criação, as questões éticas envolvidas em cada criação, lançando propostas de reflexão e acção a partir das questões centrais de cada espetáculo. O Postal de Apropriação é um objeto físico oferecido ao público, que terá uma leitura diferente antes e depois do espetáculo, uma presença que permanece na mão de cada espectador, prolongando a experiência e activando a reflexão pessoal a partir do espetáculo.
Os Cadernos de Mediação, dispositivos digitais, destinam-se a diferentes públicos específicos, e incluem actividades artístico-pedagógicas.
No caso de Se um momento os teus olhos me pudessem ver, desafiamos a pensar o que vemos quando olhamos o Outro.
Como foi a escolha do elenco e a construção das personagens com os atores?
Trabalho com pessoas que admiro e que vou tomando contacto no meu percurso profissional. Essa construção é feita com o texto quando a palavra começa a viajar pelo corpos e pelo espaço. Sem improvisações. E como regra a procura constante das palavras, sem texto na mão.
O espetáculo estreia no Dia Mundial do Teatro. O que significa para ti apresentar esta peça numa data tão simbólica?
O Teatro Nova Europa, com o apoio de diferentes Teatros, tenta sempre apresentar uma criação nesse dia: um hábito que criámos nos últimos anos. É sempre um momento especial para nós e para o público.
Em tempos de exposição extrema e redes sociais, achas que o teatro ainda pode ser um espaço de reflexão sobre o que é público e privado?
Não conheço lugar melhor.
Foto de Luís Mestre: © Rita Reis
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