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Que Jazz É Este? Ana Bento responde

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COFFEEPASTE
July 15, 2024

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Que Jazz É Este? Ana Bento responde

Este ano dilatado no tempo com o calor dos meses de junho e julho, o festival "Que Jazz É Este?" integra 17 concertos para público em geral, 3 concertos ao domicílio, 3 jam sessions, 8 horas de rádio ao vivo, 18 horas de um intenso workshop de jazz para músicos e estudantes de música e 15 horas de uma oficina de experimentação sonora e musical aberta à participação da comunidade em geral. Conversámos com Ana Bento, diretora do festival, para saber mais.


Fala-nos das origens e missão da Gira Sol Azul

A Gira Sol Azul foi fundada em 2006 e a sua missão é um reflexo das pessoas que a compõem. Um grupo que na altura erámos jovens que estudávamos juntos na universidade, na área da música, e que começámos a desenvolver projetos em conjunto, desde bandas a participações enquanto músicos em projetos multidisciplinares de outras estruturas artísticas e de outros artistas. Optámos por nos manter sedeados nesta região que é de interior e sentíamos (e ainda continuamos a sentir) uma grande necessidade de dinâmicas culturais, quer de formação artística profissional, quer de programação cultural. Então, sempre tivemos estes dois pilares como missão da associação que fundámos: o proporcionar contextos de formação profissional para músicos e estudantes de música, mas também experiências participativas para a comunidade em geral e a oferta de propostas de programação diversificada e inclusiva, alavancada na área da música.

  

Que balanço fazes das edições passadas do Festival Que Jazz É Este?

São 12 anos do festival Que Jazz É Este? e o balanço é muito positivo. As primeiras edições tiveram tanto adrenalina e de excitação no desenho e implementação do festival, como de esforço e dificuldades. Os apoios financeiros eram muito escassos e o que valeu foi a vontade gigante de uma equipa minúscula fazer o festival acontecer e os muitos contributos, quer de pessoas da comunidade em geral, quer de artistas, estruturas artísticas e alguns privados que se identificaram com esta vontade, e que ajudaram a tornar o festival possível com uma série de apoios em espécie. Penso que nos últimos 3 ou 4 anos conseguimos um maior equilíbrio dos apoios  financeiros que permitem hoje ter um festival mais consistente e justo, quer em termos de condições para os artistas e para as equipas técnicas e de produção, assim como as próprias propostas de programação que oferecemos ao público.


As duas edições em tempos de pandemia foram um grande desafio e foram também uma forma de tomarmos consciência da importância do festival e de percebermos o urgente que era o festival continuar a realizar-se pelas pessoas – artistas e público em geral. Foi um grande desafio, mas tudo fez sentido e aconteceu. Actualmente estamos felizes com a constante procura do equilíbrio entre o desenvolvimento e o alimentar dos pilares fundamentais do festival, dando continuidade a uma série de rúbricas que achamos que é mesmo importante manter e desenvolver, a par de uma constante reflexão do que é que ainda faz falta e faz sentido incluir a cada ano que passa.

 

O que destacas da programação de concertos para a edição de 2024?

É sempre muito difícil destacar iniciativas ou concertos específicos da programação, porque de facto é uma programação muito diversificada e eclética. No entanto, talvez este ano possa fazer um destaque para o concerto do trio sueco Nils Berg Cinemascope pela sua natureza híbrida que combina a projeção de um filme realizado em residência artística na aldeia de Basilicata (Itália); um filme que inclui paisagens sonoras peculiares, desde sons da natureza, um grupo de mulheres que enquanto lavam roupa nos lavadores públicos cantam canções tradicionais, um grupo de cowboys que tocam gaita de foles, e que sobre este filme acontece em tempo real a música original do trio em constante relação com as paisagens sonoras do filme. Ao nível da formação musical, destaco a semente do festival, ou seja, o Workshop de Jazz de Viseu que já se realizava quatro anos antes do festival existir e que foi o ponto de partida do Que Jazz É Este? Enquanto festival, e que, ao longo desses quatro anos, cresceu e se ramificou para alguma programação paralela ao workshop e que deu origem ao festival.

 

As Jam Sessions são parte importante do festival?

Na lógica de criar contextos férteis para o desenvolvimento dos jovens estudantes de música e dos próprios músicos profissionais, as Jam Sessions são uma parte muito importante do festival, porque são um lugar de encontro, um lugar aberto, de partilha, onde podem conviver pessoas de várias gerações de níveis e estéticas musicais bastante diferentes, mas que têm o gosto e a habilidade comum de tocar música. Para o próprio público é também surpreendente e emocionante poderem ver e ouvir música única, que só acontece ali naquele momento e que junta pessoas à partida tão diferentes como podem ser um miúdo que está a iniciar o estudo de um instrumento e um músico mais que consolidado e reconhecido na cena nacional ou internacional, como já tem acontecido. É muito bonito de se ver e sentir.

 

Fala-nos da componente formativa

A componente formativa é extremamente importante, porque sem formação, sem educação não há cultura, não há futuro, não há comunidade artística para continuar a desenvolver trabalho… é uma cadeia sem fim. Apesar de ao longo da última década vermos que há mais contextos de formação artística em Viseu, a realidade é que ainda estamos muito aquém do acesso pleno e justo a uma formação artística, e especificamente musical na área do jazz, regular e profissional. O Conservatório de Música de Viseu tem feito um trabalho muito importante ao nível dos cursos de ensino articulado de música, mas há todo um outro lado de outras experiências que julgamos importante os músicos e estudantes de música terem acesso e que passam, por exemplo, pelo contacto e conhecimento da linguagem por um lado específica, por outro lado rica e aberta, que é a música jazz. A improvisação como característica principal do jazz é uma ferramenta extremamente importante que os músicos podem incorporar na sua prática e no seu trabalho, quer como intérpretes, quer como compositores.. Por outro lado, a questão criativa e do jazz assentar nesta lógica de jogo e comunicação permanente e em tempo real entre os vários músicos que tocam em conjunto é algo que julgamos fundamental continuar a proporcionar em contextos formativos. No Workshop de Jazz, para além de três dias de trabalho intensivo com formadores que partilham ferramentas e que proporcionam um ambiente de aprendizagem e de descoberta de cada participante, há ainda o contexto das jams que são um espaço onde se complementa este trabalho.

 

Como caracterizas o público do festival?

O público do festival é um público muito diversificado, também ele um espelho da própria programação e das suas várias dinâmicas. Eu penso que há um público muito fiel desde a primeira edição, que é a comunidade viseense em geral, pessoas de várias gerações, famílias, músicos e outros artistas, público em geral, que demonstra confiança nas propostas da Gira Sol Azul e que independentemente de conhecer ou não os nomes e as propostas que são apresentadas, confia que, podendo identificar-se e gostar mais ou menos de cada proposta, vai  encontrar sempre qualidade e rigor artístico e podemos comparar isto por exemplo a uma alimentação saudável, o termos consciência que podemos ainda não gostar tanto de determinado alimento, mas sabemos que é importante e saudável incluí-lo na nossa alimentação. Depois há todo um outro público que procura o festival pelos nomes específicos que compõem o cartaz e nós compreendemos isso através de alguns mecanismos de reservas online ou de pessoas que nos escrevem a tirar dúvidas e percebemos claramente que há uma série de pessoas que se deslocam de outras partes do país e não só, também do estrangeiro, para ver concertos específicos quer de músicos de bandas portuguesas quer de bandas internacionais que muitas vezes se apresentam em Portugal num concerto único que é em Viseu. Há ainda outro público muito especial que é público que está privado de vir aos locais onde acontecem estas propostas nomeadamente parques, jardins, salas de espetáculos e por estarem privados disso, o festival vai ao seu encontro com a rúbrica Jazz ao Domicílio. E falo no caso específico deste ano dos reclusos do Estabelecimento Prisional de Viseu, dos utentes que se encontram internados na ala de Psiquiatria do Hospital de Viseu, e ainda dos utentes da APPACDM que se deslocam das suas várias unidades para o Estabelecimento Vitor Fontes para assistir a um concerto. A relação com estes públicos, é também alimentada ao longo do anos com outras iniciativas que extrapolam a programação do festival.

 

Como olhas para a cena cultural de Viseu atualmente?

Penso que a cena cultural de Viseu já esteve bem pior, mas também já esteve melhor. Sabemos que tudo é feito de ciclos. Esses ciclos têm também a ver com outros ciclos, nomeadamente políticos, sociais, entre outros. Penso que actualmente há uma comunidade artística muito forte em Viseu, quer de pessoas que nasceram, cresceram e se mantiveram a trabalhar na cidade, outras que saíram e voltaram, também pessoas que vieram de outros lugares e acabaram por escolher ficar cá. Há estruturas de programação com décadas de trabalho e que continuam a repensar-se, renovar-se e a ir ao encontro do que pode fazer sentido hoje e no futuro neste lugar específico (como por exemplo o Cine Clube de Viseu), outras mais recentes como o Carmo81,  fundamental quer ao nível da sua programação, quer como espaço de acohimento de outras iniciativas (só nesta edição do Que Jazz É Este? acolhe 5 concertos, 3 dias de workshop intensivo e 3 jam sessions!). Há alguns apoios municipais e estatais que permitem o alimentar da comunidade artística local quer ao nível da criação, quer ao nível da programação, mas penso que esses apoios, esse investimento  não é suficiente. Tem sido desenvolvido trabalho artístico em Viseu muito interessante e pertinente, mas penso que a maioria das estruturas sobrevivem de forma bastante precária, com bastantes dificuldades e esforço que muitas vezes ultrapassa os limites do que é saudável. Penso que o poder político local atual deveria ser mais claro quanto à sua política cultural e poderia revelar mais consciência sobre a forma como a cultura , a fruição cultural e a criação artística devem ser encaradas: um bem precioso, de primeira necessidade, ou seja, do dia-a-dia, motor fundamental de uma sociedade mais justa, livre, consciente, saudável, um bem precioso que é preciso alimentar e cuidar constantemente – até porque isso já está firmado na nossa constituição desde 1976, não é? Artigo 78, se não me engano.

 

 (foto por Luís Belo)

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