TUDO SOBRE A COMUNIDADE DAS ARTES

Ajuda-nos a manter a arte e a cultura acessíveis a todos - Apoia o Coffeepaste e faz parte desta transformação.

Ajuda-nos a manter a arte e a cultura acessíveis a todos - Apoia o Coffeepaste e faz parte desta transformação.

Selecione a area onde pretende pesquisar

Conteúdos

Classificados

Recursos

Workshops

Crítica

Artigos
Rés-do-chão

Rés-do-chão #2: discos ao vivo

Por

 

Mariana Dixe
February 14, 2025

Partilhar

Rés-do-chão #2: discos ao vivo

Tinha um professor que dizia que não gostava de ouvir música ao vivo; que, inevitavelmente, nos concertos acabava sempre por se desiludir. Das duas uma: ou o artista não soava nada como no álbum gravado, que ele dizia ser a situação mais frequente; ou era muito melhor do que na gravação e ele irritava-se com o carácter efémero do espetáculo, queria levá-lo para casa e substituir o disco por aquela memória.


Eu achava isto tudo - e ainda acho - um disparate. Os concertos são uma parte importante da minha vida, porque me permitem inserir-me numa multidão, numa comunidade, mas também por me levarem a descobrir que os artistas do meu imaginário são pessoas, corpos para além das vozes nos meus phones. Ao mesmo tempo, as experiências ao vivo não ficam com o lugar dos discos, que eu quero continuar a ouvir no meu dia-a-dia e a cantar, conseguindo prever o verso seguinte e a canção seguinte, sem surpresas nem interrupções. Acho seguro dizer que eu discordo por completo daquele professor, porque não se trata de melhor ou pior, mas de coisas diferentes, com propósitos diferentes.


Esta era a minha linha de raciocínio, até começar a olhar, de facto, para alguns dos álbuns que - ainda - guardo fisicamente em estantes. Leonard Cohen Live in London, gravado em julho de 2008 na The O2 Arena; Grande, Grande é a Viagem, do Fausto Bordalo Dias, ao vivo no Centro Cultural de Belém, de 1999; Adele Live at the Royal Albert Hall, em setembro de 2011; ou, sem pudor, D’ZRT ao vivo no Coliseu de Lisboa, em 2005. Os dois últimos, ainda por cima, em versão CD + DVD. 


Na verdade, posso continuar a discordar de um antigo professor. Não se pode dizer que eu quisesse levar para casa a memória de um concerto, porque não estive em nenhum destes. Agora, se os espetáculos são a realidade (na música, pelo menos) e os álbuns são a ficção, a quantidade de versões Live na minha biblioteca parece dar conta, mais uma vez, da minha vontade de aproximar as duas.


Porque é que prefiro escutar as canções entrecortadas com palmas e assobios, ouvir artistas interagir com um público do qual, na maioria das vezes, não fiz parte ou falar para uma sala onde nunca estive? Ou, mesmo que lá tenha estado naquele momento, quanto da experiência vivida de um concerto pode ser vertida para um objeto? 


Diria que muito pouco. Mas o restante pode ser inventado. Quando, com 15 anos, via o DVD da Adele sem fazer a mínima ideia do que era o sítio onde ela estava a tocar, parecia-me ouvi-la dizer, logo de início, com aquele sotaque britânico cerrado que ela tem, “For you, an album fucking whole” (que nem sequer faz sentido, sei-o agora), em vez de “Royal Albert fucking Hall”. 


Os discos gravados ao vivo ficcionam a realidade, porque transportam uma pequenina parte da experiência do concerto e deixam-me inventar tudo o resto. A ficção - o álbum, neste caso - permite-me criar uma versão do que podia ser a vida real, ao meu gosto e mais à minha medida.


Estamos a aproximar-nos da discussão sobre se é a arte que imita a vida ou a vida que imita a arte, que está para os artistas como o ovo e a galinha estão para a ciência. Só que aqui é evidente que surgiram os dois ao mesmo tempo, perdão, que se imitam mutuamente. Não podia haver álbum live se não tivesse existido um concerto primeiro, mas ele só existe para que também possa haver um concerto depois e sempre que se queira.


Aqui, a quarta parede, a cortina do rés-do-chão ou o processo de gravação e fixação de um concerto ao vivo, como quisermos chamar-lhe, é o que nos permite saltar consecutivamente do palco para a plateia, da ficção para a realidade ou, melhor ainda, como outras formas artísticas nem sempre conseguem, balançar entre o teatro e o sofá de nossa casa. Nunca fui ao Royal Albert Hall, mesmo depois de ter percebido do que se trata, mas parece-me que já lá estive. 

Apoiar

Se quiseres apoiar o Coffeepaste, para continuarmos a fazer mais e melhor por ti e pela comunidade, vê como aqui.

Como apoiar

Se tiveres alguma questão, escreve-nos para info@coffeepaste.com

Segue-nos nas redes

Rés-do-chão #2: discos ao vivo

Publicidade

Quer Publicitar no nosso site? preencha o formulário.

Preencher

Inscreve-te na mailing list e recebe todas as novidades do Coffeepaste!

Ao subscreveres, passarás a receber os anúncios mais recentes, informações sobre novos conteúdos editoriais, as nossas iniciativas e outras informações por email. O teu endereço nunca será partilhado.

Apoios

03 Lisboa

Copyright © 2022 CoffeePaste. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por

Rés-do-chão #2: discos ao vivo
coffeepaste.com desenvolvido por Bondhabits. Agência de marketing digital e desenvolvimento de websites e desenvolvimento de apps mobile