Conteúdos
Agenda
Recursos
Selecione a area onde pretende pesquisar
Conteúdos
Classificados
Notícias
Workshops
Crítica
Por
Partilhar
Entre os dias 17 de abril e 11 de maio de 2025, Almada volta a ser palco de encontros intensos, partilhas sensíveis e propostas artísticas que desafiam as fronteiras do corpo e da convivência. A 5ª edição da TRANSBORDA – Mostra Internacional de Artes Performativas, organizada pela Casa da Dança, promete mais do que um festival: é um espaço de escuta, investigação e comunhão artística entre criadores, performers e público. À frente desta programação vibrante estão Amaury Cacciacarro e Adriana Grechi, diretores artísticos do projeto, que falam nesta entrevista sobre os critérios de curadoria, os desafios logísticos, a filosofia que orienta o festival e o papel transformador das artes performativas no mundo contemporâneo.
A TRANSBORDA tem-se destacado por promover a convivência entre diferentes culturas e a partilha de afetos. Como é que esta filosofia se reflete na programação da 5.ª edição?
A convivência entre diferentes culturas está presente nos laboratórios, nas criações partilhadas e na programação de performances desta 5ª edição. Taoufiq Izeddiou, coreógrafo fundamental para a dança contemporânea no norte da África, vem a Almada para criar Danser la Ville com 30 participantes de diversos países residentes na grande Lisboa e dois bailarinos da Guiné-Bissau (em parceria com um projeto da ONGD Vida de Almada). André Uerba selecionará quatro performers locais para trabalhar com sua equipa de Berlim na recriação de Æffective Choreography, onde investiga estruturas e políticas de intimidade. Neste trabalho, Uerba cria um ambiente de partilha de práticas reservadas à esfera íntima, entendendo o exercício de vulnerabilidade como força e não falta dela.
A TRANSBORDA é organizada pela Casa da Dança, portanto resulta de um trabalho contínuo de Labs/Performances que reuniram em Almada, nos últimos 3 anos, mais de 400 performers de Portugal e de 27 outros países em torno de projetos de investigação artística de coreógrafos internacionais.
Nesta 5ª edição procuramos também ampliar ainda mais o acesso às artes performativas no município, com entrada livre no Largo do Farol de Cacilhas, ou bilhetes acessíveis no FMRC e no TMJB.
Quais foram os critérios para a seleção dos artistas e espetáculos apresentados este ano? Há algum tema central que una as performances desta edição?
A seleção dos espetáculos é resultado de um contínuo diálogo com artistas que trabalham com enfoque no modo do corpo operar, buscando nas suas investigações outras práticas e formas de atuar no mundo contemporâneo. Alguns artistas desta 5ª edição já dirigiram Labs/Performances na Casa da Dança, como Nacera Belaza, Cristian Duarte e André Uerba. A TRANSBORDA procura criar relações entre coreógrafos, artistas locais, participantes das performances e públicos. Relações colaborativas e “porosas” onde todos se afetam gerando uma real investigação artística. Os artistas que programamos questionam o seu próprio fazer e estão atentos ao mundo contemporâneo, não há um tema específico na mostra, mas surgem assuntos comuns, como as violências, as destruições, as devastações, e uma enorme necessidade de ativar vitalidades, afetos e diferentes formas de liberdade através da dança.
A programação deste ano inclui espetáculos de intensa fisicalidade, como "E nunca as minhas mãos estão vazias", de Cristian Duarte, e "L'Envol", de Nacera Belaza. O que levou à escolha destas peças em particular?
São trabalhos de intensa fisicalidade no sentido da vitalidade sensível e vigorosa que é ativada nos corpos dos performers. Estas peças foram escolhidas por acionarem experiências que integram corpo-mente, onde as emoções são matéria física-tátil e provocam escutas e ações atentas ao mundo contemporâneo. Esta intensa fisicalidade surge da necessidade de liberdade e de vitalidade partilhada (coletiva) diante de ambientes devastados e de violências diversas.
A mostra também apoia artistas que retornam a Portugal, como Maria João Costa Espinho e André Uerba. Como é que a TRANSBORDA tem contribuído para fortalecer a ligação entre artistas portugueses e o público local?
A TRANSBORDA anualmente apresenta artistas portugueses e procura dar continuidade na relação destes artistas com o público local em laboratórios e partilhas de processos realizados durante o decorrer do ano na Casa da Dança. O público local tem a possibilidade de se relacionar com o trabalho destes artistas portugueses antes e depois do festival. Esta 5ª edição traz a Almada dois coreógrafos portugueses que trabalham em outros países para realizar de forma radical suas experimentações.
"Danser la Ville", de Taoufiq Izeddiou, envolve 30 performers locais numa performance no Largo do Farol de Cacilhas. Como é que a comunidade local tem respondido a estas iniciativas que integram artistas da região?
Ao integrar artistas da região a comunidade local fica atenta e se envolve nas atividades. Em Almada e na grande Lisboa residem artistas provenientes de diversos países que têm participado dos Labs/Performances realizados desde 2021 na Casa da Dança. Estes artistas locais (de diferentes países, formações e culturas) acrescentam também informações e novos olhares aos trabalhos dos coreógrafos convidados.
Para além dos espetáculos, a TRANSBORDA promove laboratórios e conversas mediadas por Ruy Filho. Qual é a importância destas atividades complementares para o festival e para o público?
As conversas e os laboratórios oferecem outros modos de aproximação aos trabalhos dos artistas. Possibilitam ao público entrar em contato com o pensamento, com a prática e com o processo de cada coreógrafo. Desta forma acrescentam informações e ferramentas para o público aprofundar relações com as obras.
Considerando a vossa experiência anterior com o Festival Contemporâneo de São Paulo, de que forma essa vivência influenciou a concepção e a evolução da TRANSBORDA em Almada?
Nós procuramos com a TRANSBORDA ativar comunidades realmente diversas em torno de projetos artísticos de excelência. Buscamos expandir o acesso às artes performativas para além do público já familiarizado com arte contemporânea. No Festival Contemporâneo de São Paulo este era também nosso principal enfoque: reunir pessoas de diferentes condições sociais, de diferentes gerações, de diferentes culturas, em torno de propostas artísticas de coreógrafos internacionais que questionam o mundo contemporâneo.
Quais são os principais desafios que enfrentam na organização de um evento internacional como a TRANSBORDA?
Conceber soluções para a realização de projetos que necessitam de tempo de convivência, de escuta e de cuidado atento. Elaborar condições favoráveis no encontro das obras com os públicos. Encontrar outros apoiadores, além da CMA e da DGArtes que apoiam a TRANSBORDA desde o início. Conciliar o calendário da cidade e dos teatros com a agenda dos artistas. Nesta 5ª edição o desafio tem sido trazer a Almada trabalhos que envolvem a participação de muitos integrantes. São apenas 8 apresentações de 6 trabalhos, porém cada um tem necessidades e processos bastante específicos.
Como veem o papel da TRANSBORDA no panorama das artes performativas em Portugal e internacionalmente?
Como um lugar de encontro, de partilha e de experimentação artística. Um lugar de escala pequena que proporciona um pouco de tempo e acesso para pessoas de diferentes culturas conviverem e se relacionarem com qualidade. Um lugar onde é possível encontrar trabalhos de artes performativas que propõem outras percepções e modos do corpo operar no mundo contemporâneo.
Para o futuro, que direções ou inovações gostariam de explorar nas próximas edições da TRANSBORDA?
Gostaríamos de expandir nossa estrutura de acolhimento para que praticantes de artes performativas de outras regiões, e de outros países, tivessem também acesso e condições de vir a Portugal para participar das investigações e colaborar com o trabalho dos artistas convidados. Gostaríamos de expandir o tempo de duração dos laboratórios e das criações partilhadas. Gostaríamos de ocupar com performances, laboratórios e encontros outros espaços da cidade, além dos teatros.
Foto: © Bruno Marreiros
Apoiar
Se quiseres apoiar o Coffeepaste, para continuarmos a fazer mais e melhor por ti e pela comunidade, vê como aqui.
Como apoiar
Se tiveres alguma questão, escreve-nos para info@coffeepaste.com
Mais
INFO
Inscreve-te na mailing list e recebe todas as novidades do Coffeepaste!
Ao subscreveres, passarás a receber os anúncios mais recentes, informações sobre novos conteúdos editoriais, as nossas iniciativas e outras informações por email. O teu endereço nunca será partilhado.
Apoios