Ciclo de Cinema | O Papel Principal é Meu
08 + 15 + 22 + 29 Out | 21:00 | 3€
Cinema | Sala Estúdio TMO
Quantas vezes um filme é salvo pelo seu protagonista? Alguém reclama o holofote e ofusca tudo o resto, sem sombra de dúvidas, para nem tudo ser uma perda de tempo – o que não se aplica a nenhum dos quatro títulos que a Albardeira traz no seu regresso ao TMO. Grandes performances para grandes obras: o crime bem intencionado de Al Pacino, a decadência gloriosa de Gena Rowlands, a megalomania de Ken Ogata e a ambição tresloucada de Mia Goth.
8 Out | Um Dia de Cão (1975, Sidney Lumet)
“Cão” rima com contradição. É tensão de alta voltagem; é também farsa para rir a bandeiras despregadas. É um assalto a um banco, mas não se detetam os estratagemas nem a perícia de um “heist film” – muito pelo contrário. Afinal, é uma história baseada num episódio mediático da vida real, e Hollywood só pode acentuar a tendência da vida real para o caos.
Sidney Lumet é um cineasta da cacofonia (a comédia absurda de “Escândalo na TV”, o drama judicial de “Doze Homens em Fúria”). Neste “Dia de Cão”, por entre a algazarra, procuramos os motivos escondidos, encontramos muitas surpresas e torcemos pelo assaltante: o brilhante Al Pacino.
15 Out | Noite de Estreia (1977, John Cassavetes)
“Assombro” pode sugerir admiração, terror, ou fantasma; em “Noite de Estreia”, significa tudo isso a um só tempo, graças à eletrizante Gena Rowlands (falecida em agosto deste ano). A sua personagem, Myrtle, é uma atriz à deriva: prestes a estrear uma nova peça de teatro, sofre um esgotamento nervoso. Perde o controlo sobre o papel e sobre si mesma, numa espiral descendente regada a álcool.
Ao seu redor, John Cassavetes constrói um “mundo primal (...) pintado de vermelhos berrantes", como escreveu o jornalista Dom Nero, para ilustrar "os rituais quase satânicos” do palco. Deixem-se ser assombrados.
22 Out | Mishima (1985, Paul Schrader)
O narcisismo ganhou uma roupagem fofinha na internet: “síndrome de personagem principal”. Talvez demasiado fofinha para Yukio Mishima: escritor, modelo, ator e esteta, considerado cinco vezes para o Nobel da Literatura, antes de ter formado o seu próprio exército em 1970 para devolver a glória ao império japonês. Foi humilhado e esventrou-se com uma espada.
Assim reza a estranha história de Mishima, a que o ator Ken Ogata dá o seu sangue, músculo e nervo. Um filme arrepiante, assinado por Paul Schrader (“Touro Enraivecido”, “A Última Tentação de Cristo”), de fotografia surrealista e banda sonora hipnotizante (cortesia de Philip Glass). Controverso como o seu sujeito, filme de culto e vertigem, nunca foi autorizado o seu lançamento no Japão.
29 Out | Pearl (2022, Ti West)
Ao contrário do que hoje se papagueia, o século XXI não inventou uma geração sedenta por fama. A celebridade só se tornou mais instantânea, com meios mais rápidos de a alcançar. “Pearl”, título e nome da protagonista, demonstra isso mesmo: uma aspirante a atriz, que se define como uma estrela, mesmo antes da sua primeira audição.
A mãe tirana e o pai paralisado, com quem vive numa quinta do Texas, são dois dos obstáculos na corrida. A psicopatia é outro. Os resultados serão violentos, mas brilhantes e sarapintados como num filme dos anos 1940 – onde nada seria tão explícito como aqui, num filme que pertence à impressionante Mia Goth.