Na Solidão dos Campos de Algodão

Teatro da Terra.

autoria – Bernard-Marie Koltès

encenação – Marcello Urgeghe, Maria João Luis e Rita Blanco

interpretação – Maria João Luis e Rita Blanco

Em Bernard-Marie Koltès (1948-1989), disse o encenador francês Phillip Boulay, a palavra é “hemorrágica”; “tem o seu corpo, a sua língua, a sua musculatura”. Rita Blanco e Maria João Luís subscrevem certamente esta consideração, e abraçaram, “como dois animais que se cruzam no mesmo território”, o desafio inédito de encarnarem no feminino as duas personagens (o dealer e o cliente) de Na Solidão dos Campos de Algodão, porventura a peça central da obra do expoente máximo da dramaturgia francesa contemporânea.

Num espaço neutro, perante a realização de um “deal” (expressão do próprio Koltès sobre aquilo que considera “uma transação comercial de valores proibidos”), vendedor e comprador confrontam-se. Primeiro, há um certo clima de sedução entre “estrangeiros”, pessoas “sem passado comum, sem linguagens familiares e sem cumplicidade histórica”. Depois, o combate inicia-se, num “conflito que ultrapassa as palavras”.