
Por Patrícia Portela
Fazer é elaborar, executar, construir. Dar existência a coisas que, se não as fizermos, não o são.
É pegar nas coisas, nas ideias, nos planos, com as duas mãos, e oferecer-lhes um lugar para acontecerem.
Fazemos uma escada, fazemos uma escola, fazemos uma porta. Faz-se um jantar, faz-se amor, faz-se à medida, faz-se tarde,
Fazer é ainda confiar – faço minhas as tuas palavras
É praticar – faço isto todos os dias
É arranjar – faço as unhas, faço a barba
É dar um certo rumo às coisas – fiz do papel reciclado um caderno
É dar um rumo errado a outras – fiz dela gato-sapato
É escolher um rumo desconhecido – faço-me à estrada
É fazer sem querer fazer – faço um frete
É pedir para fazer com querer – faz-me um favor!
É compor – fazer uma música, fazer um verso…
É acrescentar – encha lá mais um bocadinho para fazer três quilos certos!
É crescer – fez-se uma mulherzinha, quem diria! Ainda ontem nem sabia escrever.
É dar nas vistas – fazer-se ouvir, fazer-se notar
É fazer por quem tem e não tem de ser – faço sala contigo, fizeste-me esperar por ti por tanto tempo.
Fazer é muita coisa. Fazer é grande. Fazer é mais do que um verbo.
Implica arquitectar, manufacturar, preparar, edificar e depois acontecer- É um substantivo.
Por vezes queremos fazer e não sabemos. Por vezes não temos forças para fazer e não queremos que ninguém repare.
E então não fazemos mas fingimos que estamos a fazer. Para que ninguém perceba que estamos parados. Não! Que estamos paralisados! E por isso mexemo-nos na parilisia. Sem direcção.
Remexemos a água choca. Agitamos os nossos pântanos. Acolhemos o bulício, gritando sem sair do lugar, convencemo-nos de que estamos em permanente actividade quando estamos apenas a mexer na vida, na nossa e na dos outros, para que no movimento não se perceba o pânico, a dúvida, o constrangimento do que não se é porque não se faz.
É nesse momento que o fazer se rende ao tempo e, não se mexendo nem querendo fazer, faz-se luz! E tudo avança.
Patricia Portela
“Nascida pela altura da Intentona das Caldas, Patrícia Portela aprendeu a respirar pouco antes da revolução. Interessou-se por livros e bonecos já livre da ditadura. Segue à risca a máxima grega: transforma o mundo sem estrondo mas com esperança. Gosta de formigas físicas e metafísicas, de viajar e de olhar e ouvir a filha.” (por Raul J. Contumélias)
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